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November 2012

Day-to-Day

Ultrapassagem II.

November 30, 2012

As últimas semanas foram tão caóticas que acabei esquecendo de publicar minha própria coluna por aqui! OLD 16, meu segundo texto, ainda sobre lentes, mas não anamórficas dessa vez, e sim sobre adaptações. Tá lá na página 45. Mas a revista toda é boa!

Day-to-Day

Diversão e Trabalho.

November 30, 2012

Mais de uma vez ao longo desses anos de AV, pessoas me disseram para fazer um blog separado para coisas de trabalho e pesquisa, e manter esse só para histórias pessoais. Eu admito que tentei, logo que sai do wordpress grátis e vim pra esse domínio próprio. O site até existe, e é bonitinho – Portfolio – mas não sou capaz de atualizar dois endereços diferentes, com estilos diferentes. Acho que é uma incapacidade minha mesmo.

Além disso, tem uma questão ideológica. Meu trabalho é a minha maior diversão, e minha vida pessoal, na maioria do tempo, tá de alguma forma relacionada ao que eu vou/quero fazer. Aí fica tudo junto. Problemático pra quem só quer saber dos anamórficos, problemático também pra quem não quer nem saber de tecnicismos.

Bom, o Tito que escreve sobre lentes e números e coisas bizarras como keyframes, comps e etc, é o mesmo que escreve sobre sua revolta com o curso, ou sobre como reagiu quando arrombaram seu carro. Então, até que uma dessas duas coisas seja REALMENTE necessária separada, elas seguem juntas, da mesma forma que não vou me dividir em dois!

Day-to-Day Specials

Mãe e Só.

November 30, 2012

Uma coisa muito curiosa que sempre foi clara na nossa casa é: eu sou muito mais ligado à minha mãe, e Lila a meu pai. Sempre tive essa sensação, e muitos e muitos anos confirmam. Todos os quatro se relacionam muito bem, mas existe essa ligação mais forte. Nunca escrevi sobre minha mãe. Nunca me veio o que dizer. Esse ano, entre todas as outras coisas, trouxe a gente mais próximo, em pensamento, apesar de distante, na geografia. São textos que a gente troca revisão por email, um do outro, telefonemas, e – vocês não imaginam o quanto – acertos financeiros, dívidas e balanços, apostas e metas.

Aí, agora, acordei no meio da madrugada e me veio o texto. Me senti na obrigação de levantar e escrever, antes que ele fosse embora. Me acompanhem enquanto é tempo.

Já tinha comentado com algumas pessoas, inclusive com minha mãe mesmo, que tenho um preconceito sem explicação em relação a muita coisa que ela me indica, ou diz que tenho que ouvir ou ler. Acho que apesar de tanto em comum, nossos gostos para arte são bem diferentes. Se ela me diz pra ver um filme, eu até providencio uma cópia, mas fico enrolando meses, e muitas vezes não assisto.

Uma das tradições de casa sempre foi “passear de carro ouvindo música e conversando/resolvendo coisas do dia a dia”, como ir ao mercado. Desde pequeno. Foi de minha mãe que peguei meu gosto por dirigir sem obrigação de chegar logo, de aproveitar o caminho, perceber que ele é mais importante e duradouro que o destino. Agora a história pode ficar um pouco confusa, mas espero que faça sentido. Minha mãe sempre escolhia as músicas que a gente ouve no carro. E minha mãe é Brasil até o fundo. Só fui ouvir e conhecer, descobrir e gostar de pop internacional em meados de 2005, aos 15 anos. Até então, não conhecia nada ou quase nada de fora. A trilha sempre fui Gonzagão, Amelinha, Caetano, Gil, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Zeca Baleiro e por aí vai. Um disco, porém, sempre esteve presente ao longo dos anos, e era um disco de Maria Bethânia que eu sempre achei muito chato. Ouvia, claro, minha mãe adorava, mas sempre que podia, evitava. Só concordava com a cabeça e ia adiante (não queiram me matar ainda, sigam a leitura!).

Sempre achei Bethânia meio chata. Uma música muito parada, blasé, essa coisa de poesia, enfim, ouvia, mas não era dos favoritos (calma, ela volta mais adiante).

Entre as indicações de minha mãe nesse ano, teve Moonrise Kingdom. Eu tava num ponto de ônibus, indo buscar um pagamento, – era meio de Setembro – e a descrição do filme foi mais ou menos “é lindo, a história de um menino que some num acampamento de escoteiros, às vesperas de uma tempestade, e todo mundo fica à procura dele. Mas é muito lindo!”. Ok, baseado nessa descrição, baixei o filme, mas fiquei enrolando pra assistir. Esperava algo parado. Chato, que me dissesse muito pouco ou quase nada.

No ócio do feriado, entre uma diária e outra do Asfalto, tava sozinho em casa e com muita preguiça de ver um filme repetido, pensei: “tenho que dormir de dia mesmo, pra noturna, vamos colocar esse filme”. E foi aí que eu não dormi mesmo. Na verdade, mal conseguia piscar. O filme ia caminhando pro fim e lá estava eu, sozinho em casa, chorando pra me acabar no sofá, e sem saber por quê. Até hoje não sei exatamente o que me pegou, mas algo fez muito sentido. Dessa vez, o chato tinha sido eu.

Nesse semestre, uma música tem estado estranhamente presente. É O Trenzinho do Caipira, de Villa Lobos. Me encontrei com ela num job, pra um mega congresso de Psicologia. Para quem não sabe, minha mãe é psicóloga. “Aaaah! agora tudo faz sentido, Tito!” – faz mais. Calma. Nesse job, era uma versão instrumental. A segunda vez que me encontrei com essa música foi no disco Música dos Dois, que May apresentou pra gente enquanto estávamos em Salvador, onde há uma citação também instrumental à música de Villa Lobos. Nesse disco tem uma música, que é essa que intitula o post, e que quase me fez escrever esse post, mas não era a hora, pelo visto. A terceira vez que o trenzinho me acertou foi ontem, quando fui, novamente com a May, numa apresentação de Mario Adnet, no Ibirapuera, sobre Villa Lobos, revisitado. Orquestra e tudo, uma coisa maravilhosa. E aí veio a música, interpretada por Edu Lobo. Ficou bonita, mas me lembrou da outra versão cantada que eu conhecia.

Voltei pra casa insistindo pra May que eu conhecia uma versão ainda mais maravilhosa que aquela que ouvimos, e interpretada por uma mulher. Chegamos em casa e finalmente lembrei que era uma versão de Bethânia. Coloquei pra carregar no youtube, mas a internet não quis colaborar. Fiquei puto e resolvi apelar pro iTunes. Não deu certo, porque só vendia o disco completo. Adivinha que disco? Exatamente, aquele que eu falei lá atrás. Botei pra baixar, e enquanto isso, ia ouvindo prévias das outras músicas.

Meu único pensamento era: “por que diabos eu não gostava disso?”. Ouvimos o Trenzinho do Caipira, que de fato, é uma coisa de outro mundo na voz dessa mulher. Ouvimos também outras do disco e hoje ele não saiu da cabeça. E de novo, lá estava eu, chorando por motivo desconhecido, que não era tristeza – muito mais provavelmente beleza. E depois de mais de dez anos ouvindo esse cd, ao longo da vida, só agora ele fez sentido.


Mãe e Pai

Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar

E lá sigo eu, no trem, que em seu caminho, nos aproxima e afasta sem que muito percebamos. Acho que nunca tive consciência disso, mas aposto que minha mãe sempre soube.

Depois escrevo um post mais clássico, explicando quem é essa figura dos cabelos brancos e um pouco da suas histórias. Esse se encerra por aqui, e é mais uma carta particular, só que pública. Agora, se vocês me permitem, vou voltar a dormir, porque daqui a pouco tem trabalho para apresentar.

Day-to-Day

O Asfalto.

November 23, 2012

Aos trancos e barrancos, sobrevivemos ao filme, e o filme a nós. Encabeçando a equipe de foto estávamos o Patsy (AV08) e eu, e ajudando – muito – a gente, tava a Gabi Akashi, Albanit, Cadillac e Heitor, todos do AV11. Adotamos uma política de luzes práticas e equipamento minimalista, tanto pra reduzir o esforço físico como os tempos de movimentação entre um plano e outro. A estratégia deu bem certo e conseguimos terminar todas as diárias antes do horário – sob o comando da cruel Bruna Mass. Ok, brincadeira. Nada cruel, e sim muito eficiente.

Tivemos internas, externas, diúrnas, noturnas, Sol pra caralho, nuvens, dedolights e MUITA luz prática – iluminando a sala da casa do Patsy, a gente tinha umas 15 fontes diferentes espalhadas, e nenhuma delas prejudicando o som! Nada de ficar carregando e descarregando caminhão todo dia, porque ninguém é feliz com isso!

Usamos um bocado de equipamento emprestado pra câmera – um shoulder e um follow focus de marcas diferentes, e plates diferentes, e tudo diferente, e foi uma confusão. A gente levava mais tempo trocando de 24-70mm para 70-200mm do que alterando a luz dos ambientes. Um inferno. Com isso, depois de todo o perrengue montando e desmontando shoulder, passando e voltando do tripé, rearrumando longarinas e ajustando plates e parafusos, decidi que é hora de comprar meu próprio rig de câmera. Vamos chutar o balde, com decência e economia. Já tenho lentes o suficiente por aqui.

Day-to-Day

Tem Uma Menina…

November 1, 2012

Que eu conheço, tem uns três anos já, que sempre me surpreende. Sempre que eu acho que já sei muito sobre ela – tolo sou eu – descubro coisas novas, gostos novos, idéias e habilidades novas. É sério.

Correu muito atrás, encheu o saco de muita gente até que conseguiu um estágio na rádio USP. Rádio de velho, com música velha. Já tentei ouvir algumas vezes, e não foi fácil. A idéia: um programa que traga novidade pra essa monotonia toda, apresentando novos (bons) artistas da música brasileira. É o Nova Trilha – que eu fiz todas as artes, vinhetas, etc etc, porque viro fã das coisas com muita facilidade – que vai ao ar aos Domingos, 16h. Já tem tanta história relacionada ao programa que daria pra encher, sem esforço, um volume maior que meus posts anamórficos.

E nessa história toda, ela já me apresentou muita música boa. A gente fica ouvindo os discos em casa, na rua, nos shows, é um tipo de febre. Desse contato todo com música, acendeu de novo uma brasinha que tava meio apagada nos últimos tempos: a cantoria. May canta que é uma coisa de outra realidade. Estou trabalhando em convencê-la para que vocês possam ver (ouvir!) isso também, com uma campanha a favor de um canal de música/canto no Youtube, ou Vimeo.

Ontem a gente tava num recital de poesia aqui em Salvador, do aniversário de Drummond, com a Cia Subversiva, e May participou da apresentação, abrindo e fechando com a versão musicada do poema “E Agora José”. No fim do recital, entre “parabénses” e elogios, um bocadinho de gente perguntou se ela cantava profissionalmente. Minutos depois (ou antes, já não lembro mais), ela falou esses versos que alguém postou no facebook, de Ferreira Gullar, e que me convenceram que eu tinha que vir aqui escrever isso.

“Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro, mas
Não um pássaro cantando:
lembra um pássaro voando.”

Meu bem, coragem pra abrir esse caminho que você tanto gosta e tem habilidade de sobra!