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January 2013

Day-to-Day Tudo AV

Projeto 796 – Manhã de Sol.

January 31, 2013

Tava tão louco no fim do ano passado que acabei nem contando da nossa saga Itapetininga! No fim de Novembro (no aniversário da May, dia 23, pra ser mais específico) fomos convidados a fazer um vídeo para uma música de um projeto que começava, envolvendo o Bruno Piazza, Gabriel Altério e Fi Maróstica. Nem eles nem a música tinham nome ainda, mas era preciso gravar, e gravar pra ter pronto em Janeiro. O link foi a May, que topou fazer e me convenceu também. E lá fomos, pra Itapetininga, gravar de madrugada, no estúdio Sollua – onde também foi gravado o lendário “Jardineiro É Jesus”!

Fomos munidos de Canons, 5D3 e 7D – com MagicLantern – e lentes clarinhas porque o ambiente não era lá muito light-friendly. Cinquentinha f/1.2, 135mm f/2, 24-70mm, 70-200mm, pra garantir qualquer enquadramento imaginável, e muitas baterias. Acho que a gente – a May tava operando a segunda câmera – filmou uns cinco ou seis takes de cada músico, com as duas câmeras. Alguns fixos, outros surtando com câmera na mão, tudo isso lá pra depois de meia noite. Jantamos com a galera, ficamos batendo papo na porta do estúdio, enfim, foi um dia bem divertido. O material ficou bonitinho, e May pegou tudo pra colocar algum sentido e montar. O resultado tá aí embaixo. Corrigi a cor rapidinho – as cores lá já eram ótimas – no After Effects mesmo, e fizemos o corte pra cinemascope. No próximo projeto com eles, considero muito começar a usar anamórficas.


Equipe pequenininha!

Day-to-Day Tudo AV

Nova Trilha!

January 14, 2013

Blá blá blá, alucinações anamórficas. Só tenho falado disso, e não tenho mostrado lá tanta coisa assim. Acabei que fiz umas coisinhas de entrevistas pro programa da May, que vai ao ar aos domingos, 16h, na rádio USP. Tudo com uma câmera só, e com Iscorama.

O primeiro, com o Pedro e o Bruno, tava usando aquele Isco M42 bichado que já falei antes, além de um perfil de cor muito descontrolado, então ficou TUDO muito verde e eu tive que corrigir na pós. Isso deu uma poluída geral na imagem, mas no segundo/terceiro, do Fabio Cadore, foi com o gigantesco Isco 54, e me deu total controle pro vídeo, seja pro foco, seja pro contraste, além de um perfil de cor mais tranquilo de corrigir depois. Vejam aí, se divirtam!




Fabio Cadore – Quando o Amor Chamar

Day-to-Day

Ultrapassagem III.

January 14, 2013

Pra abrir o ano com um texto mais interessante, tá aqui a OLD 17, primeira de 2013, onde dou continuidade à coluna dos dois números anteriores. O tema da vez é o uso de lentes invertidas para conseguir ampliações maiores que o tamanho real das coisas, tipo uma macro, só que mais radical.

A imagem que ilustra a coluna é de Cogo, que me ajudou um bocado com a parte prática – e já fez boas fotos usando esse método. Escrevi o texto durante o Arraial, com trocentas opiniões e idéias de minha mãe, que é uma parceria infalível para essas coisas escritas.

Day-to-Day Tudo AV

Berndt.

January 9, 2013

Mais um da série OLD + anamórficas, dessa vez conversamos com o Filipe Berndt sobre sua fotografia. Estou apaixonado pelo Isco 54, procurando um projeto de ficção pro menino.

Day-to-Day

Matata.

January 1, 2013

O dia de hoje começou com os quatro homens da casa – um geólogo, um arquiteto, um fotógrafo e um publicitário – se revezando com uma enxada, pá e picareta para cavar um buraco no meio do mato. Vamos pular nesse buraco e sair nas férias de 2005-2006, que foi quando a gente saiu do apartamento e se mudou para essa casa, que levou um ano pra ser construída. Éramos quatro humanos (Fátima, Luiz, Tito e Lila), e dois gatos (Kiko e Madalena), todos muito apressados pela mudança, viemos antes da mudança, sem os móveis, e já começamos dormindo na sala, todos juntos, num amontoado de colchões e travesseiros, gente e gatos.

As portas e janelas viviam abertas e o vento entrava da mesma forma que os gatos saíam. Não tínhamos vizinhos, fomos da primeira leva de “colonização” do condomínio, que era um imenso parque de diversões felino. No quintal, um quarto do terreno fora preservado sem interferência nossa. Mato e árvores, uma grande ribanceira de floresta. O passatempo dessas férias era aprimorar a casa por conta própria. Meu pai adora plantas e cavucações, mas sempre trabalhava a semana toda, saindo cedo e chegando no fim da tarde. Nesse meio tempo, ele deixava missões pra gente. Em casa, estávamos sempre eu e Fábio – grande amigo e colega de colégio -, cumprindo as missões. Muitas delas envolviam escavar buracos para plantas grandes – palmeiras, ipês, graviolas, pau brasil e por aí vai – num terreno de barro batido e comprimido pelos caminhões da obra. Era pesado, mas a gente se divertia, revezando entre escavador e enxada, para amolecer a terra e tirar pra fora do buraco.

No fim do dia, meu pai chegava e avaliava os buracos, indicando o que a gente tinha que consertar (ou não!) no dia seguinte. Acho que foram as férias que mais fiz exercício ao mesmo tempo que ficava em casa. De certa feita, resolvemos colocar grama na parte limpa do quintal – depois do fim da casa e antes da parte de floresta – e pra isso, precisávamos nivelar o terreno. A descida pra parte de mato era muito brusca. E aí foi um fim de semana inteiro, de trabalho em família, carregando as pedras que sobraram da construção pra fazer uma barreira onde a terra não escorregasse, tirando barro daqui e colocando ali, arrancando raiz, colocando toquinhos de madeira pra marcar canteiros, tudo isso com dois gatos correndo e pulando por cima de tudo.

Na semana seguinte, fizemos uma trilha, limpando cipós, folhas secas e nivelando degraus com blocos de pedra, descendo até o fim da ribanceira de floresta, para passeios no meio do mato. E era a gente colocando uma pedra e os gatos assistindo da pedra recém assentada, olhando tudo aquilo de mato que eles nunca tinham visto antes. Kiko já era mais grandinho e castrado. Dona Madalena ainda não. E em 2006 mesmo ela deu a primeira ninhada. Quatro filhotes, onde só um nasceu vivo, e os mortos foram enterrados no quintal. Era uma criatura minúscula, de pêlo preto e branco e nariz cor de rosa, que corria e pulava alucinadamente em tudo e em todos, pirraçando a mãe até não poder mais – mordia, assustava, arranhava, miava – e explorando a casa por dentro. Meu pai tinha acabado de voltar do Quênia, cheio de palavras do dialeto local e a favorita era Hakuna Matata, que literalmente significa “sem problemas”. E assim, o gatinho ganhou o nome de Hakuna.

Numa dessas explorações, Hakuna – do tamanho de um palmo – deu uns passos na direção errada e caiu pelo vão da escada. Do ponto mais alto até o ponto mais baixo, direto. Acho que foi um dos maiores sustos e preocupações que já passei até hoje. Todo mundo saiu correndo pra acudir o mini-gato, que, no fim das contas não teve nada grave, mas machucou o narizinho, que sangrou um pouco. Não tenho certeza, mas tenho lembrança de ir com minha mãe e Lila pro veterinário, com o gatinho, pra ter certeza de que estava tudo bem com ele. No dia seguinte a escada já estava protegida com redes de segurança.

E Hakuna cresceu, e virou o gato mais bonito da casa – casa (e família) essa que também foi mudando conforme ele crescia. Depois de castrado, começou a ficar mais e mais gordinho, chegando aos quatorze quilos em 2012. Em 2008 eu fui pra São Paulo, em 2009 meu pai foi pra Manaus, em 2010, Lila também foi pra São Paulo. Em Salvador ficou minha mãe, e os gatos – que a essa altura já eram seis. E os acidentes eram muito frequentes, os gatos saíam pra rua e voltavam machucados, ou demoravam dias pra voltar, e a gente foi ficando preocupado. O condomínio também foi ficando cada vez mais e mais ocupado, até que minha mãe decidiu que era mais saudável colocar redes em todas as janelas e não deixar os gatos saírem. Era muito sofrimento quando um chegava machucado. E então, os gatos foram virando filhos de Fátima. Vocês não fazem idéia do que minha mãe faz por esses bichinhos. Na verdade, acho que todo mundo da casa faz, mas ela é a capitã do time. E Hakuna era como se fosse o irmão mais novo de Lila e meu. Quando Lola e Nino nasceram eu já estava em São Paulo, então não era a mesma coisa.

Hakuna vivia deitado pelo chão frio da cozinha, comendo tudo que caísse do balcão e se esfregando em todos que por ali passassem, pedindo carinho. Rolava pra lá e pra cá, com a barriga pra cima, mas depois mordia e arranhava quem se arriscasse a fazer carinho muito distaidamente. Deitava do lado do pote de água, e só bebia depois que alguém parasse do lado, pra derramar um copo de água geladíssima. Água natural é pros fracos. No calor de Salvador, só assim pra valer a pena.

No Domingo, Hakuna teve um treco e não conseguia mais mexer as patinhas de trás. Estava minha mãe no quarto, escrevendo, eu, meu tio e sua namorada na sala, vendo um filme. Lila viu assim que o gato começou a se arrastar, e todos os outros gatos foram para cima dele, não sabemos se pra cheirar ou atacar, mas Lila deu um grito de “mããããããe!”, daqueles que qualquer pessoa que ouve sai correndo pra ajudar, e num segundo estávamos todos – os humanos – cuidando de Hakuna, que se escondeu embaixo de uma cama, lambendo as patinhas que não se mexiam. Os outros gatos todos querendo saber o que aconteceu, tentando chegar perto e a gente com medo de dar briga, tirando eles da porta. Começou a operação resgate, pra colocar o gato gigante na caixa e levar para o veterinário. Cada um teve funções diferentes, e fiquei tirando os gatos do corredor, manobrando o carro pra ser fácil de entrar com a caixa e partir pra cidade, e fazendo qualquer outra coisa que precisassem. Eu e o Geja (meu tio) desmontamos a cama ao redor de Hakuna, pra podermos colocar a caixa de transporte mais perto dele.

Lila, minha mãe e Heneile (namorada de meu tio) ficaram fazendo de tudo pra ele entrar na caixa, e ele lá, no colchão, sentadinho, quase humano, olhando pra todo mundo com carinha de curioso – a mesma carinha de filhote que ele sempre teve – e lambendo as patinhas que não mexiam. Depois de muitas horas, conseguiram botar ele pra dentro, à base de atum, ração especial e erva de gato, tudo junto, e um empurrãozinho.

O carro foi lotado, e fiquei em casa. Lá pelas 22h, o povo estava de volta. Tinham deixado ele na clínica, mas já um tanto melhor, e tranqüilo. Ficamos menos preocupados. No dia seguinte, apareceu uma mancha no raio-x do gatinho e a clínica disse que era melhor deixar ele por lá mais um tempo, para fazer uma tomografia e ver melhor o que era aquilo no pulmão dele, e descobrir o problema das patinhas. Ontem à noite, depois de sedado, o coração de Hakuna parou, e não teve santo que fizesse voltar. Minha mãe saiu de casa e foi lá, buscar o bichinho. Lila foi a primeira a saber o que tinha acontecido, depois meu pai, depois o Geja

Só hoje de manhã é que soube que Hakuna tinha morrido. Minha mãe tava me buscando na casa de amigos de longa data, que não via há um bom tempo. Chegamos em casa, e estamos eu, meu pai, o Geja e Tio Fê, ao redor daquele buraco que a gente pulou dentro, lá no começo, e que a essa altura já estava bem fundo, o suficiente pra Hakuninha descansar sem perturbações. Foi-se tranqüilo, e já temos saudade. Talvez por já não ter visto ele rolando pelo chão da cozinha hoje, talvez por saber que não vamos mais encontrar com ele nesse mundo. Os outros gatos estão quietos, e eu acho que é porque estão notando a falta.

Não sei se tá o texto que eu imaginei escrever, só fui colocando as palavras que vieram – sou muito ruim com as palavras faladas – mas queria dedicar alguma coisa a esse irmãozinho que a gente tanto amou.

Hakuna Matata, é lindo dizer.
Hakuna matata, sim vai entender.
Os seus problemas você deve esquecer. Isso é viver