Day-to-Day

Cinema e idealismo.

July 23, 2009

A maioria das pessoas só mantém seus ideais e princípios até entrar dinheiro na jogada. Não sei que tipo de idiota ainda pergunta “por que cinema é difícil no Brasil?”.

Não sei como passa despercebida a enorme quantidade de filmes iguais que se faz por aqui. Drama, romance, comédia romântica. Tá, isso é bom, mas é BARATO. E aqui é caro. O cinema barato brasileiro sai caro. Não consigo nem imaginar quando é que poderemos ter uma INDÚSTRIA cinematográfica de fato.

A mentalidade é tão atrasada, considerando uma associação absurda entre ficção e realidade, que acho mais fácil sair do país e trabalhar em outra parte do mundo do que tentar desenvolver as coisas por aqui. Não se leva fé nos que começam, e se dá muita glória a quem tá lá em cima.

Revolta em contexto, tô tentando filmar uma perseguição digna de hollywood (Hollywood mesmo, minha principal fonte e estilo, não nego, nem ligo pra quem quer reclamar. Mesmo porque, “principal” é (bem) diferente de “ÚNICA”), sem gastar mais do que R$50.

O que eu considerei que seria a parte mais fácil se revelou a mais complexa. Com alguns poucos telefonemas encontrei elenco, veículos adequados, motoristas, armas, câmeras e diversos tipos de equipamento. A parte de efeitos e pós produção fica totalmente comigo, o roteiro já está pronto, assim como storyboard. As filmagens propriamente ditas não tomariam mais do que  duas horas. Quando fui procurar a locação para tal projeto, começaram as frescuras. É frescura mesmo. O condomínio onde moro negou a permissão por conta de que as imagens podem vir a mostrar casas dos moradores, essa parte é até compreensível, mesmo considerando que filmaríamos, sem estardalhaço, num trecho sem casas, cercados por cones e equipe técnica.

Agora vem a parte que bate de frente com o “estímulo” ao cinema. Como principal ponto da negativa vem a idéia de que permitir a filmagem ia associar o condomínio com uma imagem de violência e desordem. Tá, isso porque quem quer filmar é um tal de Tito Ferradans, filho de desconhecidos. Agora, chama um diretor de comercial, pra fazer algo ainda mais absurdo, com a mesma temática, no mesmo lugar, oferecendo qualquer cinco mil reais pra filmar por um dia, pra ver o que acontece. Eu aposto minhas câmeras (pelas quais tenho muito apreço) que seria tudo aprovado rapidinho.

Aliás, não precisa nem ir tão longe, com essa história de diretor de comercial. Basta pegar um político mais destacado no cenário local, ou um morador mais influente. Nossa organização é PODRE por dentro. É altamente contraditória.

Honestamente, respondam a si mesmos, se você fosse administrador de um condomínio e aparecesse um rapaz à procura de uma locação para fazer um cena em especial. Alguns pontos devem ser considerados, assim como suas consequências.

O sujeito é uma pessoa séria no que faz? Ele vai mesmo cumprir o que diz, sem criar confusão? Ele tem histórico de propagar o caos por aí, sem motivo?

As filmagens vão expor os moradores? Elas vão ser absolutamente identificadas/identificáveis? A maioria dos filmes que assistimos por aí, nos cinemas ou em casa, nem sequer deixa descobrir onde as cenas foram rodadas no mundo físico real. Será que acham MESMO que eu vou pegar o vídeo, colocar no google, identificando onde foi feito, quem são os donos das casas, sua renda, quantos carros têm, família, etc? Ah, tenha paciência, né galera?

Só fecham as portas para o cinema aqueles que nunca participaram de nada do tipo. E isso eu digo de boca cheia.

  • donk July 23, 2009 at 11:46 am

    Um ia ainda terei um blog… Só pra poder me revoltar assim.

  • Ferradans. · The Making Of Insight August 18, 2013 at 9:45 am

    […] Bem, como eu já disse antes, foi uma tentativa frustrada, e mais informações sobre a experiência podem ser encontrada neste post revoltado. […]