Day-to-Day

[TCC] Cão.

September 20, 2010

Acho que o último post de CHUVA que narrei por aqui foi Minha Nossa Senhora da Penha!, então tenho um novo, pra divertir vocês a partir das enrascadas de quatro pessoas.

Esse sim foi, literalmente, cair de paraquedas num projeto. Cão é um TCC do AV2004, dirigido por Íris, que conta uma história que desconheço, foi filmado por uma equipe que desconheço, enfim, não sei nada dele. Mas, como é a vida, acabei caindo lá dentro. Na quinta à noite, entre aqueles telefonemas irrecusáveis, um era da Amanda (AV2004), que foi atrás do Fattori (AV2006), que indicou o Ricardo (AV2008), que me indicou pra ajudar no trampo. Topei, como de costume.

Posso não saber muito sobre o filme, mas a Íris me explicou detalhadamente os motivos da filmagem. Durante a montagem ela deu por falta de um plano que ambientasse os personagens numa mata, com neblina. Procurando pelo mundo, ela conseguiu uma imagem de arquivo, filmada em 35mm, que cumpria essa função. Na hora de substituir a versão de baixa qualidade que ela tinha, pela de alta resolução, foi surpreendida ao descobrir que os originais tinham sido descartados, e que agora só existiam versões em Betacam (uma fita enorme, usada bastante em TV, com boa qualidade de imagem e som, mas bem longe de um 35mm ou das câmeras HD atuais). Ou seja, “é hora de correr atrás desse plano!”.

Essa era nossa situação. Quatro pessoas num carro, (eu – assistente de câmera -, Amanda – fotógrafa -, Íris – diretora -, e Diogo – não sei a função dele no filme. Shame on me), com três tripés, uma sacola de comida, uma Panasonic HPX-500 e casacos, capas de chuva, roupas de frio e caixas de equipamento. Quatro pessoas dentro de um carro, às 5h30 da manhã, em direção à Serra do Mar, baseados numa previsão de chuva e tempo nublado, à caça de neblina e mato. Não dava pra sair coisa boa, convenhamos.

Acordei às 4h10 e Íris me buscou aqui às 4h40. Fomos para a casa dela e esperamos a outra dupla chegar, para colocar tudo no carro e pegar a estrada. Como passei boa parte da minha noite de Sexta no estúdio B, ajudando a Lud na arte de filmagens que também tomei parte, e fazendo a geringonça do vídeo de Domingo, acabei dormindo tarde demais. No carro, apaguei completamente e só acordei quando já tínhamos mais de uma hora de estrada. Tempo nubladíssimo, vento frio e cortante, muitos e muitos vales, encostas e coisas do tipo que você só vê na serra mesmo.

Descemos numa parada da estrada, uma espécie de “ponto de descanso”, com uma escultura muito bizarra, montamos a câmera com a proteção de um guarda-chuva (sim, já estava chovendo) e filmamos uma meia hora de neblina subindo pelas árvores ao redor da estrada. Toda vez que a neblina se acentuava e dispersava, caía uma chuva correspondente ao tamanho da névoa. Menos névoa, menos chuva, mais névoa, mais chuva. Conseguimos umas imagens bem legais, retomamos a estrada, já bastante ensopados e com frio.

Dormi mais, até que paramos num ponto de onde se via uma cachoeira ao longe. Eram umas 9h15 da manhã. Várias pessoas paravam por ali, pra tirar fotos. Sinceramente, a gente não tava nem aí para a cachoeira. Com câmera coberta por uma capa de chuva, começamos novamente a filmar neblina. Dessa vez ainda não tava chovendo, só o vento que tava do mal. Vimos várias nuvens se formando – sério, a serra parece um berçário de nuvens – e se desfazendo com o vento, em meio à floresta lá embaixo. Em um dado momento, a neblina começou a ficar mais espessa, e se espalhar loucamente. A câmera já via quase tudo como cinza, então fomos engolidos pela névoa. Sério, uma loucura. Não dava pra ver nem mais a estrada, a dez metros de distância, só as luzes dos carros que passavam. Ficamos ainda mais alguns minutos a filmar na névoa total. Quando olhei no relógio, eram 11h30. Mais de duas horas se passaram enquanto a gente estava ali. Era tão pouca a mudança ao redor, que eu achei que tínhamos ficado no máximo uns quarenta minutos…

De súbito, um pensamento nos ocorreu: “se quando temos pouca névoa e ela se dispersa, chove pouco, o que vai acontecer quando ISSO AQUI começar a dispersar?”. A resposta veio quase imediatamente quando começaram a cair gotas que mais pareciam bolas de gude. Arrancamos a câmera do tripé (a bagaça pesava uns dez quilos, o tripé mais dez) e saímos correndo pro carro. Entramos, mais uma vez, ensopados e nos preparamos para partir. Um único problema: os vidros estavam absolutamente embaçados. Qua a solução? Minutos depois, quatro pessoas encharcadas tremiam de frio descendo a serra, dentro de um Celta prateado bastante molhado por dentro, com o ar condicionado ligado no máximo, para desembaçar os vidros, prensadas em meio a quilos e mais quilos de equipamento de câmera.

O tempo de jornada até a próxima parada era de mais ou menos quarenta minutos. Dormi de novo. Quando acordei, estávamos passando à beira-mar. Pensei ser um sonho, mas o frio por demais desagradável me convenceu que de fato estávamos no litoral paulistano. Placas indicavam “Bertioga” e “Barra do Una”, além de outros nomes igualmente desconhecidos para mim. Paramos em muitos lugares à beira da estrada, tentando conseguir mais takes legais de neblina, sempre usando o apoio do guarda-chuva para não molhar a lente. Já estávamos molhados há tanto tempo que eu mal sentia meus dedos do pé.

Já passava das 14h30 quando finalmente nos demos por satisfeitos – os últimos takes foram feitos praticamente às gargalhadas, onde ríamos da nossa situação. A essa altura o carro já estava com cheiro de roupa guardada molhada em lugar abafado. E o frio persistia, porque senão embaçava os vidros. Paramos para almoçar coisinhas do mar num restaurante que já não me lembro do nome. Comida ruim, todos concordamos. Entramos de volta no carro, um tanto mais organizado e espaçoso, mas ainda abafado e frio, nos concentrando na viagem de volta. Metade do caminho, brincamos de “Eu vou pra Lua e vou levar…”, na outra metade, não sei dizer, porque apaguei completamente.

Por fim, fui deixado em casa. A May tava chegando de metrô, então corri para tomar um banho quente. Ficar gripado anda fora de moda, e impede as pessoas de trabalharem direito! Assim que saí do banho (que banho maravilhoso, devo admitir), corri para o metrô, para buscar a jovem. Então ficamos aqui cantando musiquinhas (a May) e ouvindo musiquinhas/cochilando (eu), até a hora de sair pro show do Lenine. Que show! Fechou o dia maravilhosamente bem, e depois de quase meia hora tomando chuva e vento nas ruas, conseguimos pegar um táxi. Dormimos à 1h30, para acordar às 7h30, afinal, Domingo é dia de filmagem! Mas isso eu conto em outro post, porque agora tô caindo de sono. Justificativa: Segunda é dia de set!

Preciso parar com essa sobrecarga, ou vou morrer muito novo!

  • Murilo Alvesso September 21, 2010 at 7:38 pm

    Meu filho, se você fez Cão você está pronto para tudo. Nem creio! O ritual está completo.

  • fiuza September 21, 2010 at 10:19 pm

    Show de bola. Sua cara tudo isso!

  • Tito Ferradans September 22, 2010 at 12:05 am

    “O ritual está completo” – HAHAHAHAHAHAHAHAHA!