Day-to-Day

[TCC] Pública.

November 13, 2011

Finalmente, depois de muita – infinita – confusão, consigo/posso escrever por aqui sobre o Pública, TCC do Felipe Abreu (da Colher!), que eu fotografei. Rodamos no fim de Setembro, a previsão era de começar a filmar na Sexta, dia 23 e seguir até dia 25. A Lud comandava a Produção, com ajuda da Bá e tinha tudo organizadinho de onde iríamos, que horas, e quanto tempo teríamos pra fazer cada plano. Chamei o Albanit para ser meu assistente (primeira vez que tenho assistente!) e dediquei minha Quarta para caçar equipamento por todos os lados. Ainda com a S10 resgatei praticáveis, PLs, a 5D e lente da Mari e o shoulder mount. Sem contar que entupi a cabine com o equipamento de som. Tudo bonitinho pra começarmos a rodar.

Na sexta, acordei exatamente na hora que o Albanit tocou no interfone aqui de casa. Dali a alguns minutos, a equipe já estava reunida. A May no Som, Renato Duque na Arte, Sabrina Petraglia e Gabriel Godoy eram nossos astros. Tomamos café por aqui e partimos em comitiva de carros para a Consolação, para rodar a primeira seqüência do filme.

Putz, não expliquei sobre o que é o filme! Então, o roteiro é do próprio Felipe, e a proposta não é o curta sozinho, e sim uma instalação, envolvendo uma série de fotografias que ele veio tirando nos últimos tempos, intitulada “Arquitetura da Solidão”. Com elas e o filme, ele discute como os espaços urbanos afetam a relação das pessoas. Então, já que é sobre espaços urbanos, tínhamos de fato, uma porrada de locações. Quase um road-movie, de tanto deslocamento.

Lá estávamos nós na Consolação, eu em cima de dois metros de praticáveis, tripé e câmera, para um plano master geral do Gabriel atravessando a avenida. Desafio número um: atravessar toda a equipe sem esperar mil anos até o sinal fechar e sem morrer atropelados. Desafio número dois: filmar o Gabriel fazendo a mesma coisa, mas com uma claquete antes, e câmera rodando. São Pedro ajudou minha parte, e fez um dia bem nublado. Conseguimos, depois de algumas tentativas, e partimos pro próximo plano, muito mais arriscado, pois envolvia andar pelo meio da rua a fim de fazer um over-shoulder do rapaz, revelando a Sabrina do outro lado. Quando o Albanit não estava fazendo foco, estava preocupado em não deixar os ônibus me atropelarem.

Fizemos base num estacionamento e a May estava tendo sérios problemas para fazer as coisas funcionarem. Acabamos rodando esses primeiros planos sem ela, o que a deixou levemente – e corretamente – aborrecida. Acabamos antes da hora, entretanto. A próxima locação era o Viaduto do Chá, no Vale do Anhangabaú, ainda antes do almoço. Os Felipes e eu fomos deixados antes pela Lud, que voltou pra resgatar o resto do povo, e ficamos lá em cima roubando uns planos e fechando os que estavam por vir, para adiantar o serviço. Nesse meio tempo, aquele tempo nublado abriu, e o dia ficou super ensolarado e bonito. Continuamos rodando mais rápido que a previsão, e antes do almoço já estava terminada a ordem do dia. Momento conveniente para decidir o que faríamos em seguida.

Para o dia seguinte, estava previsto, pela manhã a Estação Júlio Prestes, para a tarde, o Parque Villa Lobos. No Domingo, rodávamos as internas no meu apartamento, que representam o começo e o fim do filme. Optamos por adiantar a tarde do dia seguinte assim que saíssemos do restaurante. E lá fomos nós para o Villa Lobos, rodar bem longe da entrada, o que significava carregar os praticáveis até lá, no braço. Junto com o resto do equipamento, nas costas. No caminho fomos abordados por um guardinha que na verdade só queria um pouco de atenção e ficou desabafando sobre como as crianças desrespeitavam ele por ali, passeando de patins e skate fora das áreas autorizadas. Por fim, a Lud chegou em nossa salvação e mostrou a autorização que tínhamos para filmar lá – no dia seguinte. Ele passou um rádio pro chefe, e ouvimos “se fulano autorizou, então eles estão liberados!”. Continuamos nossa jornada árdua até o local exato onde rodamos os três ou quatro planos previstos.



Como estávamos caminhando fora da ordem do dia, o Renato, junto com o Gabriel e a Sabrina, deram um pulo aqui em casa para atualizar o figurino e encontraram com a gente já lá no parque. Primeiro plano, travelling lateral, na mão. Albanit fazendo foco, May xingando a gente porque estávamos pisando em muitas folhas secas. Pertinente. Depois, um plano semelhante, só que mais fechado. Estreamos a 70-200 – brinquedo novo, pego pela alfândega, que tá me deixando falido até hoje – fazendo imagens lindas. Albanit mandando ver no foco. Depois, enquanto armávamos os praticáveis para o próximo plano, esse da grama aí embaixo, a May gravava coberturas de passos com o Gabriel e a Sabrina.

Ainda fazendo essa meia diária extra, acabamos antes do previsto, e todos foram muito felizes para suas casas descansar um pouco, afinal, tudo indicava que acabaríamos o filme mais cedo.

No Sábado de manhã partimos rumo ao centro da cidade, na estação Júlio Prestes, para a cena mais complicada do filme, pois envolvia o risco de a Sabrina entrar num trem e só conseguir voltar dali a meia hora. Fomos improvisando, aproveitando os trens que apareciam e ficavam mais tempo, por um triz, conseguimos fazer um plano da porta fechando na cara do Gabriel. Depois, fomos para o fundo da estação, subindo em umas escadas fechadas há muito tempo, carcomidas pela ferrugem, a fim de fazer um plano que se assemelha à foto abaixo. Enquanto estávamos lá, a May lá embaixo, disfarçada de figurante, cobria os sons do trem e a ambiência da estação. A alguns quilômetros, o Renato, aqui em casa, preparava o cenário para a última cena.

Depois de umas seis tentativas, todas arruinadas por algum pedestre infeliz que cruzava o caminho do Gabriel e estragava o plano enquanto o trem ia embora, acabamos optando por usar o primeiro take – que atire a primeira pedra quem nunca fez isso! Partimos para o almoço, já mais relaxados e preparados pro final.


Chegamos por aqui e meu quarto havia se transformado no quarto do personagem do Gabriel. O Renato trouxe vários adereços e detalhes, e mudou bastante o lugar. Escondemos uma PL lá dentro para podermos lutar um pouco – bem pouquinho – com a luz do Sol e fazer um contraluz com algum detalhe. Por fim, o último plano do filme, que também é seu começo, literalmente, foi o plano mais complicado do filme. Ele começa num close do Gabriel e da Sabrina se beijando, e a câmera vai descendo pela cama. Nesse meio tempo a Sabrina desaparece, e o Gabriel está dormindo. Por fim, ele levanta, exatamente onde está o foco, olha pela janela e sai. E aí ele tá na Rua da Consolação de novo, e o filme é um loop. Já não sei quantos takes fizemos mais foram mais de dez. Acho que uns quinze. Acabamos, felizes e contentes, tiramos foto de equipe e ficamos conversando um pouco alegremente sobre os encaminhamentos da obra antes que todos fossem embora.

No mesmo dia, de noite, a May descobriu que o Tascam tinha corrompido todos os arquivos de som dessa segunda diária. Pânico. Vamos ter que fazer foley de tudo isso! Ainda assim, montei um primeiro corte sem som e mandei para todo mundo. O Felipe sugeriu algumas modificações e eu – tolo – deixei para o dia seguinte. Algumas horas mexendo no computador, no dia seguinte, e meu HD pára de funcionar. O HD com tudo que eu já produzi na vida (exceto as fotos), o HD com o filme! Antes que eu fizesse um backup! Fudeu! Desesperado, tentei vários métodos de ressuscitá-lo e nada. Domingo, nada aberto. Tivemos que esperar Segunda para mandar o HD para um lugar que pudesse investigá-lo mais a fundo. E assim seguiu a semana, sem que tivéssemos novidade. Tudo que havia escapado da destruição era aquele humilde corte, sem cor, sem som, e mais acelerado que o desejado.

Enrolamos algumas semanas esperando notícias do HD, até que o semestre começou a chegar perigosamente no fim e o Felipe tomou a decisão de fazermos modificações nesse corte, para adequá-lo mais ao que ele tinha em mente, e tocar em frente a banca do projeto. Tá marcada pra Sexta feira agora. Desejem sorte para o coleguinha que vai conseguir se formar em quatro anos. Passei dois dias direto tentando recuperar o máximo possível do que tinha naquele corte. Ganhei detalhes em céus brancos, sumi com carros, pessoas e até dei portas para um trem que não tinha. Tudo passou imperceptível. A May me ajudou a fechar a posição da música no loop, para trilha musical o Felipe entrou em contato com a banda Labirinto e pediu autorização para usar a música Anatema. Os caras curtiram o projeto e autorizaram. Depois disso, alucinadamente a May trabalhou no som, usando as coberturas que fizemos depois de perder tudo, e pegando uns sons aqui e ali pela internet. Fizemos uma versão com final, créditos e tudo mais, e uma outra que é o loop originalmente planejado. Assim que puder, posto por aqui!

  • Ferradans. · O Pública é Público. October 12, 2012 at 11:37 pm

    […] o resultado do Pública, no qual tivemos toda aquela saga de […]