Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos XIII] Modificando Lentes!

April 3, 2013

Tenho lembrança de, um tempo atrás, ter comentado que tava planejando abrir umas lentes para fazer modificações, inspirado por esse vídeo aqui embaixo.

O que esse camarada – chamado Amir Safari – fez foi abrir uma Helios 44, arrancar fora as lâminas da abertura e colocar no lugar um disco de acrílico, cortado a laser, com uma forma oval com proporção de 2:1, equivalente a uma abertura próxima de f/4. Dessa forma, ele evita o maior problema do filtro Cinemorph, que são as bordas pretas, além de eliminar a necessidade de mais uma peça pra carregar pra lá e pra cá.

Ok, arrancar fora as lâminas é uma parada violenta, porque a lente agora só funciona em f/4, mas, é um recurso trabalhável, porque garante um dos efeitos visuais mais notáveis das anamórficas, que é o desfoque ovalado. Além disso, ainda é bem fácil de fazer foco em objetos próximos (até 25 cm, que é um desafio enorme pra uma anamórfica), ou mesmo fazer passagens de foco sem stress.

Desde que vi esse vídeo fiquei um tanto curioso, e levando em conta o preço de uma Helios, resolvi arriscar. Paguei vinte conto em uma e mandei vir da Inglaterra. Demorou pra caramba, mas chegou. Nesse meio tempo, mandei uma mensagem despretensiosa pro Amir, perguntando como ele tinha feito, como desmontar a lente, e pedindo o arquivo utilizado pra fazer o corte a laser. Ele foi super gente boa e respondeu tudo que eu podia imaginar, além de mandar o arquivo.

O próximo passo foi procurar um lugar aqui que fizesse o corte. Não achei nada que fizesse poucas unidades, ou uma chapa pequena, só uns rolês acima de R$100, então voltei pro Amir e perguntei se ele tinha sugestões. Ele disse que dava pra cortar lá, que custava 10 euros, e rendia uns 15 disquinhos. Respondi que era interessante, mas que 15 era um pouco demais, né?

Qual não foi minha surpresa quando o bróder disse que podia mandar uns que tinham sobrado por lá, das experiências dele, de graça, boa vontade em pessoa. Quem sou eu pra recusar? Aproveitei a deixa pra saber se ele já tinha testado o processo em outras lentes e ele me indicou mais três modelos, uma grande angular, uma normal e uma tele. Só consegui encontrar a grande angular, Pentacon 29mm f/2.8. Como tava por 15 euros, aproveitei e comprei também. Essa veio da Áustria.

Antes mesmo dos disquinhos chegarem, já comecei a fazer experiências e desmontei a lente toda. Desmontei tanto que soltei a helicoidal, que é a rosca que controla o foco. Se a lente tem um coração pra funcionar, eu diria que é a helicoidal. Sofri pra conseguir colocar de volta. Dá pra encaixar de uns dez jeitos, e só um deles é o certo. Pra ver se tá certo, você precisa remontar a lente toda e testar. Se não está, desfaz tudo e reencaixa. Foi tenso. Levei uns dois dias nesse processo, mas agora, se precisar fazer qualquer coisa nessa lente, dá pra fazer de olhos fechados, em cinco minutos. O maior erro foi não fazer marcas indicando onde vai o encaixe.

Nesse processo, descobri um bom caminho até as lâminas, que não envolvia arrancá-las fora, como fez o Amir. Deixei elas lá, e a lente pode funcionar quase normalmente se assim for necessário. Quando o envelope chegou, imediatamente peguei a lente e joguei uma abertura lá dentro, fechei e fui testar. Quase chorei de emoção quando vi que tinha dado certo. O disco tava desalinhado (a forma oval não estava em pé, como deveria) e muito gordinho – algo perto de 3mm – portanto, criando uma tensão nas roscas internas.

No dia seguinte, fui numa loja de material de construção aqui na esquina e comprei um pedaço de lixa. Quase fiquei sem impressões digitais de tanto que lixei esses discos de acrílico. O sacrifício valeu a pena e ficaram com menos de 1mm. Dois são para a Helios, um com f/2.8 e outro com f/4 (esse é melhor). O terceiro era para a Pentacon, também perto de f/4, mas a lente não tinha chegado ainda.


Uma Helios 44 que parece comum,

Mas tem alma anamórfica!

Aqui um testezinho, superclose da May, feito com essa Helios. Reparem nas luzes ovais desfocadas ao fundo, e no quão próxima a câmera está da modelo, sem problemas de definição ou foco!

Olhando lá dentro, dá pra ver as ranhuras feitas pelo processo de lixar o disco. Também dá pra ver toda a sujeira do mundo nos vidros, e que são poucos elementos, num projeto bastante simples. Diferente do que o Amir me indicou – abrir a lente por trás – consegui achar um caminho fácil pela frente, permitindo que eu encaixasse o fundo na câmera para facilitar o processo de alinhamento da abertura. Se ficar torto tem que abrir tudo de novo e fechar depois do ajuste. É chatinho, e precisou de algumas tentativas.

Algumas semanas depois chegou a Pentacon 29mm e repeti o processo. De novo, fiz a burrada de soltar a helicoidal – essa lente é bem mais complexa, com muitos elementos internos precisam ser removidos no processo – mas algum esperto já tinha feito isso antes e deixou marcas de onde a lente voltava a encaixar direito. Em umas três horas consegui terminar o processo, fazendo uso de uma espátula de bolo para desrosquear o bloco óptico principal, que tava muito bem preso.

Na hora de alcançar a abertura, tava me guiando por um site e ele indicava o uso de uma chave magnetizada, então, segui o conselho. Deu merda e todas as lâminas pularam fora de seus encaixes pra grudar na chave. O jeito foi tirar todas fora, guardar numa caixinha e substituir pelo disco. Se algum dia eu tiver coragem suficiente, tento colocar de volta.


Mais uma que parece comum por fora

e vê 2:1

Essa lente, diferente da Helios, não tem uma qualidade de imagem tão boa, mas é bem útil para closes não tão fechados, e com distorção de grande angular ou muita informação no fundo do plano. É o caso das imagens abaixo, feitas também na mesa da May, onde temos um objeto em foco no primeiro plano (a uns 20cm da câmera) e luzes ovaladas fora de foco ao fundo, com todo o charme anamórfico.


Como sou um sujeito que preza muito pela matemática das coisas, já que os ovais eram de 2:1, cortei as imagens com uma janela de uma lente com 2x de stretch, ficando assim bem compridinha, mas dá pra fazer cortes mais abertos sem qualquer problema. Uma grande possibilidade dessas lentes modificadas, inclusive, é utilizar em conjunto com os focus-through de 1.33x, que produzem belos flares, mas não ovalam a abertura, e assim, obter todas as características de lentes mais caras, em condições bem mais simples de trabalhar!


Na minha pressa em fechar o post, acabei esquecendo de uma das coisas mais importantes que ia colocar aqui: o arquivo com os discos, pra quem quiser baixar e cortar! O link tá logo aqui embaixo, e é para uma chapa de 10x10cm. Esses são da Helios 44, mas abrindo outras lentes e tirando as medidas, é só redimensionar cada disco. A primeira coluna tem aberturas mais próximas de f/2.8. A segunda, f/3.2, depois f/4 e por fim, f/8. Eles têm pequenas variações de tamanho entre si, porque o disco de abertura da Helios também tem essas pequenas variações. O meu tinha 19.8mm, e o disco ficou um pouquinho folgado lá dentro

Abertura Anamórfica – Helios 44 (Illustrator e PDF)

Desejo a todos boa sorte no processo, e que me dêem um retorno, caso levem a idéia adiante! Só tomem cuidado com o tamanho do investimento! Se sua Helios saiu caro, não recomendo abrir, mas se você tá comprando uma só pra isso, divirta-se!

  • Ferradans. · [Anamórficos XXI] – Flare Factory58 July 10, 2013 at 6:14 am

    […] escolher a cor dos flares, é a modificação da abertura. Vocês podem se lembrar disso a partir desse outro post, onde contei que abri umas lentes e arranquei fora as lâminas. O que a galera da DSO faz é […]

  • Ferradans. · [Anamórficos XXIII] – Filtro Streak/Flare August 5, 2013 at 1:38 pm

    […] esticam a imagem. Alguns desses itens foram o filtro Cinemorph, modificações em lentes arrancando o anel de abertura original, a FlareFactory, que deu uma aprimorada na Helios 44 original e usa o método de substituição da […]