Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos XXIV] Rear Anamorphics.

August 13, 2013

Acho que em algum momento dessa aventura anamórfica expliquei que a expansão das lentes se deu devido à mudança no formato padrão da tela do cinema, certo? Acho que foi no primeiro post da série, na verdade. Com essa mudança do padrão da tela, de um quadrado para um mais comprido, os empresários e engenheiros do mundo cinematográfico tinham duas opções: ou desenvolver novas lentes (as anamórficas) e continuar usando os rolos de filme e câmeras já existentes, filmando tudo espremidinho e “desespremendo” na projeção, ou então jogar fora toda a película virgem existente e as câmeras da época e desenvolver novos equipamentos que se adequassem ao novo padrão, mantendo as lentes esféricas já existentes.

Depois que as anamórficas já estavam estabelecidas, sem penalidades graves como as distorções, imobilidade de câmera ou foco duplo, citados por Bordwell, o cinema andava a passos largos, e se tinha a escolha entre usar anamórficas ou cortar base e topo da imagem para conseguir uma tela em Cinemascope.

Anos à frente, em meados da década de 80, por motivos que ainda desconheço, surgiram alguns poucos adaptadores anamórficos traseiros (os Rear Anamorphics do título). Não existiam muitos fabricantes, e até agora só fui capaz de identificar três: Kowa (uma menção muito breve num site estranho) e Shiga, ambos no Japão, e LOMO, na União Soviética.

Os adaptadores eram projetados para funcionarem em um grupo específico de lentes: as super-zooms. Lentes que iam de 20 ou 25mm até 100 ou 250mm. As mais populares eram as Angenieux, e Cooke, que tinham projetos bastante similares. O adaptador era rosqueado atrás do último elemento óptico da lente e espremia a imagem antes de chegar na película.


Shigascope Rear Anamorphic

Os russos, claro, não podiam ficar pra trás, e como tinham lentes “inspiradas” nesses mesmos modelos, logo fizeram também adaptadores traseiros para elas, como é o caso da minha 35OPF18-1. No caso das LOMOs porém, cada adaptador era feito para uma lente específica, e só algumas delas tiveram a chance de entrar nessa lista seleta.

Vamos agora às consequências desses aparatos. Por afastarem a lente da película, eles automaticamente causavam alguma perda de luz – geralmente de 1 f/stop – e um “aumento” na imagem, efeito similar ao de um tele-extensor.

Pense nisso como uma projeção. Se você põe a tela perto do projetor, a imagem é pequena, mas conforme vai afastando, a imagem fica maior, certo? Por conta disso, quando coloca o adaptador, você dobra a distância focal da lente. Por exemplo, uma 25-250mm vira 50-500mm, ou minha 20-120mm, vira 40-240mm. A grande sacada é que você dobrou a distância focal, mas espremeu duas vezes a imagem horizontalmente, então, a “ampliação” acontece só no eixo vertical. É confuso pra cacete, então as imagens abaixo devem ajudar.


20mm Normal

40mm Normal

40mm com anamórfico traseiro, já esticada

Deu pra perceber como, mesmo tendo uma lente mais fechada, você não perdeu nada na horizontal? Divertido, não?

Pois bem, agora não era necessário desenvolver super-zooms anamórficas, que custariam uma grana desgraçada e poderiam não ser tão populares quanto uma esférica, que é pau pra toda obra. Quem quer filmar anamórfico, põe o adaptador e vai pro campo. Quem não quer, pega a lente direto e vai.

Ok, fui um pouco simplista. Não é só “colocar o adaptador e pronto”, para cada lente ele requer alguns ajustes de posição até que funcione da maneira correta. Esse foi o problema que encontrei na minha lente. Tive que deixar ela e o anamórfico traseiro para ajustes até acertar isso bonitinho, deslizando ele para frente e para trás dentro do encaixe.

Tá, mas eu só tenho a vantagem do squeeze?? Sim! Um anamórfico traseiro elimina os flares e o bohek ovalado que são o maior motivo de fetiche atual em relação a essas lentes – mas que eram detestados por diretores de fotografia nos anos 70 e 80 -, então, muita gente hoje não teria interesse neles. Mas quem quer só filmar em Cinemascope, sem ter que ficar lidando com esses defeitos estéticos e não quer jogar imagem fora, o caminho é o anamórfico traseiro. E tem muita gente interessada nisso!