Day-to-Day

UP16 – Streak Flare

July 21, 2014

Com a melhor câmera que existe, e uma lente maravilhosa, você está lá, fazendo sua foto, quando repara algo estranho no quadro. Uma parte onde as cores estão mais lavadas, o contraste mais baixo, uma névoa esbranquiçada aparece. Num susto, já vamos olhando dentro da lente à procura de poeira ou fungos, mas não há nada. Com uma análise menos desesperada, nota-se o reflexo de uma luz intensa no elemento frontal. “Ah, é um flare”, um defeito ‘genético’ das lentes, uma vez que em seu interior existem diversos elementos de vidro, separados por ar. O flare surge quando uma luz intensa entra, e acaba se refletindo de diferentes formas em cada um dos elementos internos da lente, podendo chegar ao sensor de formas muito diferentes.

Às vezes são manchas brancas, que tiram o contraste e a nitidez de determinada parte da imagem, oras são muitos desenhos coloridinhos, oras são padrões de arco-íris, semi-círculos e traços. O que nos é ensinado no primeiro momento é que flares são ruins, e que devemos sempre utilizar os parassóis das lentes para mantê-los fora das fotografias. O objetivo dessa coluna é subverter essa idéia. Flares não são sempre ruins, especialmente quando usados na criação de um estilo próprio de imagem.

Muitos meses atrás, na primeira Ultrapassagem aqui da OLD, apresentamos as lentes anamórficas, lentes raras e especiais, com muitas características únicas. De lá pra cá, encontramos diferentes alternativas para atingir resultados similares, com muito menos esforço e mais facilidade para se trabalhar. Entre essas características únicas que acabaram não-tão-únicas-assim, temos os flares anamórficos, que atualmente são moda não apenas nos mercados de baixo orçamento, mas também em grandes produções hollywoodianas.

Flares anamórficos sao compridos, e (geralmente) azuis. São bem diferentes dos flares convencionais e têm muito mais personalidade. Tomando como referência os filmes do diretor J.J. Abrams, flares anamórficos são uma constante, e e possível identificar sua autoria em poucos segundos de tela.

Para produzir esses famigerados flares, pode-se usar um filtro Streak Flare. Seu efeito é justamente a combinação dos dois nomes: ele cria flares que se esticam numa linha reta a partir da fonte de luz. Tradicionalmente é um quadrado de vidro com muitas linhas bem finas, todas num mesmo sentido. Existem diversas variações desse filtro, determinadas por dois fatores.

O primeiro desses fatores é a cor. Num filtro neutro, os flares terão a mesma cor da fonte de luz. Se a fonte for azul, os flares são azuis, e assim por diante. Existem versões onde o flare é colorido, que podem enganar melhor, afinal a grande maioria das anamórficas não muda a cor de seu flare, independente da cor da fonte luminosa.

O segundo fator é o espaçamento entre as linhas, dado em milímetros. Quanto mais próximas, mais intensos ficam os flares. Dá pra ver a diferença no efeito criado por essas distâncias no site da Optefex, fabricante dos filtros. É um equipamento caro e difícil de ser encontrado. Estão esgotados há bastante tempo nos fabricantes e só locadoras de equipamento estrangeiras têm esses aparatos. Com muita sorte, aparecem no eBay.

Atentando pras luzes desfocadas na imagem produzida, é possível perceber muitos pequenos traços verticais. São as linhas do filtro, por onde não passou luz suficiente para “preencher” o desfoque igualmente. Outra situação em que ele falha é para grandes fontes de luz, onde grande parte do quadro ganha uma mancha horizontal, com várias linhazinhas finas. Para fontes pequenas como lanternas, LEDs, faróis, ou lâmpadas sem difusão, o efeito é bem convincente!

Na próxima coluna, vamos falar um pouco melhor sobre coatings e propriedades do vidro que geram flares e outros defeitos ópticos que estamos constantemente combatendo!


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #30, em Fevereiro/2014

  • leandro lima July 25, 2014 at 7:38 am

    eu tenho uma lente eiki 16 F, cara anamorphismo eh o que eu quero pra minha vida pra sempre, tipo daqui uns anos poder comprar ultra prime family anamorphic e ser feliz pra sempre fazendo cinema hahahahahahh

  • Tito Ferradans July 28, 2014 at 9:59 am

    Leandro, no dia que você pegar uma single focus, sua vida vai mudar. Se você acha bom o double focus, a coisa fica MUITO mais rápida, e a qualidade de imagem tende a ser superior também.

    Tô com três Iscos aqui, e não consigo nem decidir qual usar. hahaha.