Registro 03

REGISTRO 03, CAPÍTULO 01

John, ainda atônito, estava sentado a uma mesa de alumínio pensando nos acontecimentos recentes enquanto devorava distraidamente uma barra de cereais. Ângela está sentada a sua frente, tão perdida em seus pensamentos que nem chega a piscar.

O quarto no qual eles estão é pequeno, com pesadas paredes de concreto, arrumado de forma que lembra uma cozinha compacta. Um refrigerador, um fogão de quatro bocas, algumas prateleiras e armários metálicos parcialmente ocupados, a mesa e um par de cadeiras no centro, iluminados por uma tênue lâmpada fosforescente de emergência. Um relógio de imã preso ao refrigerador completa o cenário. Duas portas, em paredes opostas do aposento quadrado são as únicas entradas e saídas. Uma delas leva ao pequeno quarto no qual eles assistiram os últimos minutos antes da queda do meteoro, sendo sacudidos violentamente com o choque. Carl e seus homens deixaram os cientistas na cozinha e prosseguiram pela porta na parede oposta, comentando algo sobre uma missão.

O silêncio, levemente afetado pela mastigação lenta e pausada de John e pelo compasso dos ponteiros do relógio, impera no ambiente, sendo quebrado apenas quando os soldados voltam. Lançando olhares apáticos a John e Ângela, eles saem pela porta que leva ao quarto com a TV. O clima melancólico cai novamente sobre os dois pesquisadores, que assim permanecem até a entrada ruidosa do capitão-piloto Carl Hudson.

— O que vocês ainda estão fazendo aqui?
Não há resposta. Ambos olham para o homem, aguardando uma explicação.
— Meus homens não disseram nada a vocês?

O silêncio continua.

— Certo… Eu não esperava resposta mesmo… Em todo caso, estamos partindo para uma missão em solo russo. Missão a qual requer  participação de vocês dois com seus conhecimentos. Venham comigo para escolherem seus equipamentos.
— Missão? – interroga Ângela.
— O mundo não acabou de acabar? – continua John.
— Acabar? Claro que não! Se ainda estamos aqui, é claro que existe. Vamos logo, conversamos durante a viagem, senão perderemos nossas últimas horas de luz solar. Venham por aqui antes que eu tenha que arrastá-los.

Os dois se levantam a contragosto e o seguem. Depois do resgate aprenderam que não se deve discutir com militares: eles não são famosos por sua paciência. Ao passar pela porta, ficam boquiabertos. Centenas de armas, coletes, capacetes, medicamentos, mochilas e aparelhos diversos ocupam completamente as paredes de um longo corredor, tornando-o estreito.

— Escolham o que quiserem – diz Carl.
— Mas, mas…
— Ah, certo. Vocês não entendem nada disso… – ele pega algumas pistolas, submetralhadoras, um par de coletes e de lanternas, enfia tudo em duas mochilas, joga uma para cada um, ensaca várias caixas de munição, colocando-as a tiracolo – Vamos. Explico o resto na aeronave.

Eles passam novamente pela cozinha, a passos rápidos, adentrando o aposento com as camas e a televisão, que agora só exibe a tela chuviscando, como que sem sinal.  Carl puxa uma escotilha no teto da qual desliza uma escada. Os três sobem, encontrando os soldados que arrumam um veículo cuja visão aparenta um helicóptero. A máquina está sobre um círculo pintado no chão. Uma redoma de metal compõe o teto do hangar, dotada de um mecanismo de abertura para permitir a decolagem vertical da aeronave.

— O céu acima deste ponto está coberto de fumaça e poeira, portanto devemos usar essas máscaras protetoras. Dentro delas há um rádio acoplado que permite nossa comunicação – explica Carl aos dois cientistas – Quando sairmos da nuvem de detritos os ensinarei como usar uma arma de forma básica, além de explicar os objetivos de nossa missão tão distante.
— A partida está preparada capitão! – informa um dos soldados.

Todos estão vestidos em roupas iguais. Armaduras, mais precisamente. Grandes placas de kevlar cobrem o peito, as costas, coxas e canelas dos soldados, cada placa possui extensões maleáveis, que cobrem as articulações com placas menores, possibilitando movimentos ágeis. Todos usam capacetes com máscaras de gás, têm uma pistola afivelada à cintura e um fuzil leve de assalto a tiracolo, pendurado por uma correia. Devido à parca iluminação, as armaduras emitem um fraco brilho esverdeado, que os aparenta com insetos de forma humanóide.

— Senhores e dama, poderiam se aproximar, por favor? – declara Carl, abrindo os braços num gesto amplo – Peter, Josh, Tommy, esses são John Matches e Ângela Nourish. Vão nos acompanhar na missão. Eles não foram instruídos com precisão, mas serão nossos guias, portanto, obedeçam a qualquer comando seu como se fosse meu.
— Sim, senhor – os homens respondem sem questionar.
— Ótimo. Todos a bordo, teremos tempo de nos conhecermos enquanto voamos.

O helicóptero atual é bem maior do que o que os transportara até ali. Tecnicamente nem sequer é um helicóptero. O Freebird 10 fora desenvolvido alguns anos antes para missões rápidas, sendo projetado como avião, porém impulsionado por três enormes hélices. Duas deslocáveis, que ficam nas asas, permitindo uma decolagem segura sem necessidade de uma pista ou grandes espaços abertos. Uma hélice central garante mais velocidade e estabilidade nas decolagens. O uso exclusivo da hélice central não é aconselhado exceto em emergências, pois força excessivamente o rotor principal. A aerodinâmica do veículo e os materiais leves que compõem sua estrutura garantem precisão nos movimentos mesmo quando em condições atmosféricas adversas. Com capacidade para dois pilotos, seis passageiros sentados e quatro em pé, é mais do que adequado para operações furtivas, que necessitem de rápido desembarque e partida. Munido apenas com um par de metralhadoras leves e dois distratores de mísseis, o Freebird 10 não é apropriado para combate direto. A clássica pintura verde, característica de veículos militares perde seu lugar para um preto fosco, que torna a aeronave invisível durante a noite.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 02

A comunicação normal se torna impossível quando os rotores são ativados e a grande redoma metálica sobre suas cabeças começa a abrir-se, produzindo um misto desagradável de estalos e rangidos. Todos se sentam a bordo da ave metálica, afivelam os cintos e tentam, da melhor forma que encontram, acalmar os nervos e o estômago, que dá voltas e mais voltas. Carl no controle do veículo decola suavemente, mergulhando no céu negro de fuligem e poeira, geradas no impacto do asteróide. Eles continuam a subir vertiginosa e incessantemente, até que uma voz automatizada soa em seus comunicadores.

— Altura padrão atingida. Doze mil pés de altitude. Aguardando instruções.
— Vladvostok, Rússia. 73º e 29 minutos Norte, 82º Leste – a voz de Carl é ouvida por todos no rádio.
— Destino adquirido com sucesso. Piloto automático ativado. Visibilidade: zero porcento. Tempo estimado de vôo: cinco horas e quarenta e dois minutos.
— Certo senhores, enquanto cruzamos a nuvem, explicarei claramente nossa missão a todos. Como já devem ter notado, temos pouquíssimo tempo de luz solar até que a poeira a oculte. Luz sem a qual nossa existência se torna impossível a longo prazo, uma vez que não há continuidade da vida vegetal, que é a base de todas as cadeias alimentares. Como a extinção da luz solar não era esperada tão cedo, não havia muitos projetos visando sua substituição. Fui informado que um desses projetos estava sendo desenvolvido na OPAB, mas apenas a parte teórica…
— É verdade – interrompe Ângela – eu trabalhava nele.
— Ótimo – continua Carl, inabalado – retomando: nas redondezas de Vladvostok há uma base de pesquisas científicas avançadas onde conseguimos detectar vestígios de um protótipo de gerador de luz solar através da investigação de fatores como consumo de energia, boletins científicos censurados e e-mails estranhos enviados pelos pesquisadores. Num desses e-mails há uma referência direta ao gerador. No entanto, é de conhecimento geral o grande número de pesquisas realizadas nessa base dentro do ramo de controle do corpo humano e nos setores de mutações e alterações genéticas em animais. Esse é o grande motivo de tantas armas. Até o momento de nossa decolagem não obtivemos informações seguras acerca da existência de quaisquer formas vivas dentro da base, portanto estamos apenas sendo precavidos. Também não é garantido que encontraremos o protótipo, nem sequer que ele exista ou esteja funcionando. Peter, Josh e Tom, vocês podem visualizar os mapas e informações extras em seus capacetes. John e Ângela, infelizmente seus equipamentos não possuem essa função por serem mais simples e antigos.

Ele dá uma pausa para recuperar o fôlego, continuando sua explicação em seguida:

— Não há risco de sermos surpreendidos pela noite, pois é verão no hemisfério Norte, então, devido à grande proximidade do pólo, o dia tem duração de seis meses. Nossa luz só acabará quando a nuvem de poeira chegar, o que nos dá algo em torno de quatro ou cinco horas de claridade a partir do momento em que pousarmos. Assim que sairmos da nuvem precisarei de algum auxílio para ensinar esses dois cientistas como atirar, afinal, teremos certo tempo para praticar antes da aterrissagem.

Durante uma hora e meia eles ficam dentro da nuvem, conversando pelo rádio e ouvindo os rotores. É o breve tempo que eles têm para se familiarizar uns com os outros. Discutem sobre missões passadas, literatura, moda, projetos perigosos, filosofia de vida e outras frivolidades. Ao fim desse tempo o Freebird sai da nuvem de detritos. Carl é o primeiro a tirar seu capacete, seguido por seus homens e, finalmente, John e Ângela.

— Certo. Prontos para sua primeira e única aula de tiro?

REGISTRO 03, CAPÍTULO 03

John e Ângela fazem um meneio nervoso com a cabeça enquanto Carl pega as mochilas e retira duas pistolas, entregando uma para cada, juntamente com um cartucho.

— Primeira etapa: carregar a arma. Vocês devem, obviamente, segurá-la pelo cabo, com o dedo indicador acondicionado levemente sobre o gatilho e com o cano apontado para frente. Agora peguem o cartucho e insiram na parte inferior do cabo, onde há uma abertura. Puxem levemente o cartucho, para certificar-se de que ele está preso. Ótimo. A arma agora está carregada. Para engatilhá-la, segurem firmemente no slider, a parte superior móvel da arma, e puxem-na para trás até ouvirem um clique. Através disso, vocês engatilharam a pistola colocando um projétil na câmara de disparo. Ela ainda está travada, o que os impede de atirar. A trava de segurança existe para prevenir quaisquer disparos acidentais, devendo ser ativada quando a arma está carregada e não está em uso. Para destravá-la, virem o seletor posicionado no lado direito da pistola, perto de seus polegares, um pouco acima. Para travá-la novamente coloquem o seletor de volta a sua posição original. Com a arma destravada vocês já podem atirar, mas não é que faremos agora. Quero que desfaçam todo o procedimento, travando a arma, removendo o projétil da câmara e retirando o cartucho. Peçam ajuda a Tommy em caso de qualquer dúvida. Não tentem descobrir por conta própria. É muito perigoso. Continuaremos quando vocês conseguirem repetir tudo, armar e desarmar, em quinze a vinte segundos, o que é um tempo razoável. – diz Carl já voltando para a cabine de comando.

Com a ajuda de Tom, eles conseguem desarmar a pistola, e começam a repetir o processo. Depois de algumas tentativas, já conseguem fazer tudo na média de tempo estabelecida por Carl, sendo que Ângela apresenta melhor familiarização com a pistola que Matches.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 04

O capitão autoriza Tommy a continuar a aula sozinho pois agora eles sobrevoam a cadeia das Montanhas Rochosas – na costa Oeste dos EUA – e Carl deve prestar o máximo de atenção aos controles e ao radar, afinal, não confia plenamente no piloto automático, nem quer correr riscos com súbitas rajadas de ventos.

O jovem soldado pega um par de cabos de aço que normalmente são usados com função de içar cargas do chão para a aeronave, amarra uma mochila vazia numa das pontas de cada cabo, prende a outra ponta em um gancho próximo à abertura lateral do veículo e arremessa as mochilas para o ar livre, fazendo-as moverem ao sabor do vento.

— Tentem acertá-las. Se concentrem apenas nisso. Segurem a arma firmemente com as duas mãos, alinhem os retículos de mira frontal e traseiro e apertem levemente o gatilho. A arma irá disparar, emitindo um estampido alto e seco, portanto, seria aconselhado o uso de tampões de ouvido, os quais não dispomos neste momento. Então, não se assustem e joguem suas pistolas lá embaixo, ok? – Tommy os instrui, em tom jovial.

Nervoso e sem saber o que fazer, John toma a iniciativa. Mirando em uma das mochilas, ele fecha os olhos, com medo de qualquer fragmento voar da pistola, e aperta o gatilho.

Nada acontece.

— Você esqueceu de desativar a trava, Sr. Matches! – sorri o soldado perante a angústia do homem.
— Pode me chamar de John, ou do que quiser. Nem sou muito mais velho que você! – o cientista tenta vencer o nervosismo enquanto empurra o seletor de segurança para cima.

Menos tenso que antes, ele mira novamente. Às pressas. Desta vez, ao puxar o gatilho, a arma dispara. O som é alto, mas não tanto se considerando o ruído dos motores. Os tampões de ouvido não teriam muita utilidade aqui. A bala nem sequer passa perto das mochilas. Após o erro de John, Ângela cria coragem. Destrava a arma e dá um passo a frente. Calma, ela mira na sacola, acompanhando cada movimento. Com um leve toque no gatilho o slider recua e uma cápsula vazia é ejetada da câmara de disparo.

O projétil, voando a aproximados seiscentos metros por segundo, atinge a mochila antes mesmo de sua cápsula chegar ao piso metálico do avião. Tom pula do banco onde estava sentado, estupefato com a precisão da moça. Ainda incrédulo, ele puxa o cabo que prende a mochila para dentro da aeronave. Olhando cuidadosamente para a mochila, ele tem certeza. Ela acertara em cheio. Bem no meio. Dois pequenos furos, um de cada lado, com nove milímetros de diâmetro agora fazem parte da sacola.

John, aborrecido, interrompe a felicidade de Ângela.

— Sorte de principiante. A mochila estava perto na hora que você atirou! Também vou acertar. Não pisquem.

Ele aponta para a mochila que ainda está no ar e começa a apertar o gatilho freneticamente. A pistola emite quatorze estampidos em rápida seqüência, mas nem assim ele acerta um tiro.

— Calma John! Quanto mais rápido você dispara menos precisão você tem. O ideal é disparar apenas dois tiros, em rápida sucessão, pois, além de a mira não oscilar muito, duas balas param um alvo melhor do que uma. – Tom pega mais um cartucho na sacola que Carl trouxera e entrega para John – tomara que você não já tenha esquecido o processo que praticava momentos atrás. – ele desvia sua atenção para Ângela – Srta Nourish, você já tinha feito uso de uma arma de fogo anteriormente?
— Não, não – ela ri contente com o acerto e com o elogio – Mas parece que levo jeito para a coisa, não?
— Com certeza – John corta a conversa assim que recarrega a arma – Agora vocês verão.

Ele segura firmemente o cabo, apoiando-o sobre a mão esquerda. Mantém o foco na mochila, fecha um dos olhos, levanta a arma até a altura do outro olho, alinha os retículos pacientemente, pressentindo cada movimento do objeto no ar e seguindo-o. Depois de alguns instantes ele pressiona o gatilho duas vezes tão rapidamente que parecem apenas uma. A mochila se solta.

O zunido do cabo de aço partido cortando o ar é ouvido centésimos de segundo antes de atingir a hélice da asa direita, quebrando todas as pás, dando um forte solavanco na aeronave, fazendo-a inclinar a estibordo. Os reflexos dos soldados são imediatos. Tom, próximo a Ângela, a segura e agarra-se num dos vários apoios do interior da nave. Carl imediatamente desativa a hélice esquerda e o que resta do motor da direita, deixando em funcionamento apenas a hélice central, em potência máxima, a fim de estabilizar o vôo. John, próximo da abertura para o vazio, é projetado para fora. Peter e Josh estavam sentados em um banco, assistindo a aula. No momento do estouro, Josh pula para impedir a queda de John e cai junto com ele. Peter, vendo o cabo preso ao colega começar a desenrolar-se sem estar fixado a parte alguma da nave, pega a ponta e encaixa num gancho.

John não sente o chão sob seus pés. Ele não está em contato com mais nada, apenas cai, com velocidade crescente. Olhando para cima, vê um dos soldados pular, logo atrás dele, mas tem a impressão de que a distância entre eles é muito grande, e que não o alcançará. O cientista começa a ver o oceano abaixo se aproximando. Virando-se novamente, não vê mais o soldado. “Me abandonaram”, ele pensa. Ainda com a pistola em mãos, ele aponta para a própria cabeça. Está prestes a puxar o gatilho quando sente um par de mãos segurá-lo. A queda é interrompida bruscamente pelo esticamento máximo do cabo que prende o soldado ao helicóptero. Um novo solavanco faz a arma escorregar das mãos de John, perdendo-se rapidamente na distância.

— Agüenta aí amigão! – Josh sussurra em seu ouvido. E são as últimas palavras que ele ouve.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 05

Passando sobre a cidade de Vladvostok, não avistam sequer uma pessoa nas ruas. O vento gélido os obriga a fechar a nave com objetivo de manter a temperatura um pouco menos desagradável. Tom vai a um pequeno armário metálico afixado ao casco do avião e pega dois enormes casacos de pelo sintético. Um ele entrega para Ângela e o outro para Josh e Peter, para que vistam John desmaiado.

Carl coloca a aeronave em baixas altitudes para se esconder dos radares, voando quase rente ao solo. Alguns minutos depois de passarem pela cidade, deparam-se com um grande vale. Ao entrar na depressão, a nave é atingida por uma forte corrente de ar que sacode o Freebird 10. Ao longe a tripulação já distingue pequenos pontos prateados e cinza. A corrente do vale obriga Carl a pilotar um pouco mais alto, rezando para nenhum radar detectá-los. Quase em resposta a sua ascensão, dois flashes amarelados são vistos saindo da base para a qual eles vão. Dois mísseis detectores de calor SA-18 ‘Gouse’ terra-ar.

— Droga! Malditos! – Carl xinga consigo mesmo.

Ativando o rádio, ele se comunica com os outros tripulantes.

— Pessoal, temos problemas. Preparem-se para saltar – o Freebird 10 inclina a hélice para adquirir o máximo de altura enquanto se aproximam da base. E dos mísseis. Furtividade não tem mais valor agora.

O sistema de proteção da nave emite a mesma voz mecânica do começo da viagem.

— Mísseis se aproximando. Impacto em T-12 segundos.

Josh, Pete e Tom pegam os quatro pára-quedas de segurança, distribuindo-os entre si e deixando um para Carl. Josh prende o cientista desmaiado no gancho de segurança de sua roupa, para que desçam juntos num mesmo pára-quedas. Peter fica responsável por levar as armas e munição, Tom, já amigo de Ângela – Angie, como ele chama – a leva da mesma forma que Josh leva John. Carl, por ser o último a deixar o veículo, vai sozinho. Uma luz vermelha se acende, indicando que eles devem aguardar antes de saltar.

— Uma última surpresinha antes da saída – o capitão quebra o vidro protetor e pressiona um botão, liberando os flashes distratores na corrente de ar. As pequenas esferas de metal incandescente têm uma temperatura muito mais elevada que a do motor da aeronave, fazendo os mísseis mudarem de alvo e dando alguns instantes de folga para Carl.

— Colisão evitada. Distratores operando – repete a voz automatizada.

A explosão dos mísseis é ensurdecedora, produzindo uma onda de choque que abala a aeronave. Carl coloca seu pára-quedas e dá uma guinada violenta nos controles de vôo, jogando o Freebird 10 numa descida vertiginosa e incontrolável. Ao longe se distinguem novos lançamentos de mísseis.

— É um sistema automático! – Carl grita para superar o ruído do vento gelado – Enquanto estivermos no ar e a essa temperatura, mísseis continuarão a ser disparados! Não há salvação nessa aeronave. Ou explodirá com os mísseis ou se espatifará no gelo lá embaixo! Vamos pular e percorrer o resto a pé! Devemos abrir os pára-quedas o mais baixo possível para evitar que nos separemos e para que eles não sejam atingidos pelos destroços.
— Compreendido. Câmbio – a voz dos soldados soa em uníssono no pequeno comunicador.

A luz vermelha se apaga, dando lugar a uma verde. Seis corpos se lançam ao ar num mergulho. O Freebird 10 está pouco acima deles agora. Menos de cinco segundos depois de deixarem a nave eles sentem a explosão. A temperatura aumenta sensivelmente, o clarão de chamas se transforma numa grotesca esfera de fumaça e fragmentos incandescentes de todas as formas e tamanhos cruzam o céu, passando rente aos pára-quedistas. Uma pequena lasca metálica atinge violentamente o pé esquerdo de Peter, que solta um urro de dor. Após a explosão nenhum míssil é disparado e a nuvem de fumaça começa a se dissipar.

— Quinhentos metros de altura. Senhores, abram seus pára-quedas.

Três estruturas plásticas inflam-se no ar imediatamente enquanto Pete continua a cair sem controle, com o pára-quedas fechado.

— Cabo Peter Linefield, abra seu pára-quedas agora. Cabo, obedeça ao comando de seu superior. Pete, você está me ouvindo? – nesse momento o pára-quedas de Carl é atravessado por um pedaço de ferro quente e começa a pegar fogo – Mas que merda!

Carl se solta do que resta de seu pára-quedas e mergulha em direção ao militar inconsciente, alcançando-o por volta dos duzentos metros de altura. Ele prende o gancho de sua roupa no do soldado e puxa a corda do pára-quedas fechado, que se abre instantaneamente, interrompendo a veloz queda. Alguns instantes depois já estão na superfície gelada, separados por algumas centenas de metros. O jovem major saca uma pistola de sinalização Flare e a dispara para cima, indicando sua posição, até a qual os outros devem ir. Em seguida ele se desvencilha do pára-quedas, cortando algumas tiras do material a fim de improvisar um torniquete no ferimento de Peter.

Carl desamarra as sacolas de munição que estão presas ao rapaz, nota a poça de sangue que se forma ao redor de seu pé e retira sua bota. A meia está empapada de sangue, há um grande buraco onde o pé fora atingido pelo fragmento. Com destreza, Carl amarra seu torniquete ao redor do tornozelo do cabo, fazendo cessar a hemorragia, então, vasculhando as sacolas que ele carregava, identifica alguns medicamentos apropriados à situação.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 06

Tom e Josh vêem Carl se desprender de seu pára-quedas em chamas para salvar Peter. Os dois soldados e suas cargas tentam se aproximar, e, mesmo apesar do forte vento, conseguem se segurar um ao outro, não se espalhando ao longo do deserto gelado logo abaixo. Ambos já tinham algumas experiências em missões no gelo. Nenhuma delas fora boa, nem sequer razoável. Antes mesmo de aterrissarem avistam, a uns poucos quilômetros, o Flare sinalizador de Carl que indica aonde devem ir.

Deslocando-se lentamente e sem palavras, fustigados pelo vento cortante, Josh leva John sobre o ombro e Tom caminha ao lado de Ângela, em direção a seu comandante. A superfície alva parece estender-se infinitamente em todas as direções, tendo sua brancura maculada apenas aqui ou ali, por grandes destroços da explosão e pelo pequeno grupo agasalhado que deixa trilhas afundadas na neve. Após um tempo que pareceu ser uma eternidade para os três, eles finalmente chegam até Carl e Peter. Matches volta à consciência nesse instante e Josh o solta na neve.

— Cara, eu não te “agüento” mais! – fala o soldado jovialmente – Suas pernas é que vão te levar daqui para frente!

Ângela vê a mancha vermelha na neve e se aproxima do homem deitado, dirigindo suas palavras para Carl.

— Ele vai ficar bem?
— Ainda não sei ao certo. Injetei algumas vacinas e limpei o ferimento, Creio que não há mais nada que possamos fazer. Vamos definir o rumo que nossa missão vai tomar. Homens, aproximem-se – ele ergue um pouco o tom de voz para que todos possam ouvi-lo – Passamos por uma sucessão de imprevistos ruins, mas conseguimos chegar a nosso destino. Em meu ponto de vista, no posto de comandante da missão, devemos dividir o peso, organizar armas e munições e marchar em direção à base, uma vez que aqui nesse gelo nós não duraremos muito. Quem concorda, discorda ou apresenta outra sugestão?

Todos concordam e, após uma breve reunião, cada militar recebe um fuzil G3, uma submetralhadora MP5 e uma pistola Glock modelo 22. Os cientistas recebem duas pistolas Beretta M9 cada e toda a munição é dividida de forma igual entre todos. Eles se dividem em dois grupos, Delta e Ômega, sendo Delta formado por Carl como líder, Matches e Peter. Ômega é constituído por Tom, eleito o subcomandante da missão, Josh e Angie. Os suprimentos médicos também são divididos entre os grupos, assim como cordas, lanternas e pequenos explosivos.

Carl coloca Peter ao ombro e eles partem.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 07

Deslocando-se com muito esforço, chegam por fim ao que parece ser a entrada da base. Uma pequena construção de concreto firme, totalmente selada, cujo único acesso é uma porta metálica anti-explosões numa reentrância, como um túnel curto. Há listras amarelas e pretas pintadas nas quinas e pequenas luzes cor de laranja piscam de forma cadenciada. Carl dá a ordem para todos empunharem suas armas e se aproximarem cautelosamente pelos flancos da construção. Os dois grupos avançam, um de cada lado, apontando suas armas e cobrindo o máximo de direções. Ângela, que vai fechando o cortejo de Ômega fala no rádio.

— Pessoal, acho que estou vendo uma cabeça aqui na neve.
— Parem – Carl ordena – Josh, investigue o que Ângela falou.
— Câmbio.

Josh se aproxima da mulher, que está abaixada na neve. Ele distingue algo escuro e vai escavando com as mãos até expor completamente um capacete negro. O corpo está mais enterrado, não há motivos para tirá-lo dali.

— Ele está morto, congelado. Não sei há quanto tempo – O soldado se comunica.
— Prossigamos com a missão.

Eles chegam até as portas metálicas sem mais incidentes e sem armadilhas. A entrada é enorme, podendo facilmente permitir a passagem de um caminhão. Há um pequeno teclado na parede, com nove dígitos numéricos e espaço para ser inserido um cartão. John se aproxima da tranca e depois dá algumas batidas na porta. Eles ficam abrigados da neve e do vento nessa reentrância coberta. Carl coloca Peter a um canto e começa a tirar alguns explosivos da mochila com ajuda de Tom.

— Não se dêem a esse trabalho – John os informa – Tínhamos portas assim na OPAB. Só se abrirão com a senha correta. A menos que vocês tenham algo similar a uma ogiva nuclear dentro dessa mochila!
— É mesmo? – responde o tenente Thomas com ironia – e porque você não explica como abri-las, ao invés de ficar aí criticando?
— Não estou criticando. Só estou afirmando que não vai funcionar. Eu e Angie abriremos essa porta, se vocês nos permitirem – Matches continua, mesmo quando Ângela o olha com uma cara de ponto de interrogação – Afinal, se nosso amigo “Sicrano” morreu aqui fora, eu pelo menos, acredito que ele esteve lá dentro antes. Angie, você vem comigo?

Saem os dois cientistas de novo para a hostilidade do ambiente gélido. Ângela guia John até o corpo congelado e eles começam rapidamente a escavar a neve e o gelo até conseguirem remover o homem e, sem quebrá-lo, levam-no à reentrância para que parte do gelo se derreta.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 08

Enquanto John e Ângela vasculham os bolsos do homem recém descongelado, Josh e Tom tentam acordar Pete, Carl está só, perto da porta, silencioso e pensativo. Uma tosse engrolada é sinal que Peter finalmente voltara. A revista empreendida pelos dois cientistas ainda não deu frutos. Tudo que eles encontraram até agora foram alguns cartuchos de rifle, um molho de chaves e uma pequena garrafa de uísque congelado. Eles agora procuram nas botas do cadáver, deparando-se com uma faca de caça e um cartão magnético sem qualquer identificação.

— Agora só precisamos da senha – John se pronuncia, inspecionando o cartão.
— Vamos colocar isso na leitora e ver o que acontece – Ângela toma o cartão de suas mãos e vai em direção ao teclado, introduzindo o objeto na fenda.

Luzes laranja começam a girar alternadamente, próximas à porta. Letras no visor do teclado dizem “Acesso temporário permitido”. Essa mensagem some para dar lugar a “Entre sua senha”. Todos ouvem o som de engrenagens se movimentando e os soldados se põem em posição, mirando na porta. John continua a revistar o corpo congelado, olhando agora dentro do capacete, sem obter resultados. Irritado, ele arremessa o objeto conta a parede, derrubando uma grossa camada de gelo que cobria o concreto e revelando traços grossos e escuros. Ele olha vem para aqueles riscos e conclui que formam um “9”.

— Não é possível… – ele murmura, se aproximando e derrubando mais e mais gelo, até revelar uma pequena seqüência numérica de quatro dígitos e uma frase em russo, a tinta parece não ter sido bem fixada, e escorreu, dando um tom macabro às palavras – “Deus nunca esteve aqui. Fujam se desejam viver. Àqueles que desejam a morta, aqui está a chave”. Quem escreveu isso? Angie! Tente esses números! Oito, seis, três, nove! – ele fala enquanto ela pressiona os botões no teclado.

Ao fim da seqüência há mais estalos vindos da porta. Todos se posicionam na defensiva, de armas em punho, inclusive os dois pesquisadores. A frase da parede ainda ecoa na mente de todos. A barreira metálica vai sendo levantada, revelando um aposento escuro e seco. Não há neve lá dentro, no entanto não é possível enxergar muita coisa também. Josh e Carl ligam suas lanternas e vão entrando, seguidos de perto pelos outros. Ao passar por debaixo da porta Tom comenta:

— É doutor Matches, parece que você estava mesmo certo quanto a essa porta. Cara, que fedor horrível!

Quando todos terminam de passar, uma voz feminina e distorcida soa em alto-falantes espalhados por toda a base.

— Movimentos detectados na entrada principal. Procedimento padrão adotado. Fechar porta – a pesada barreira de ferro desce tão bruscamente que nem sequer dá tempo para os invasores reagirem, o choque violento do metal contra o concreto ribomba em seus ouvidos – Ativar iluminação e habilitar sistemas internos de controle secundário.

Luzes fosforescentes piscam e vão aumentando de intensidade. O ambiente não é nada agradável. Há uma dezena de corpos espalhados pela pequena sala. Grandes manchas de sangue se destacam no chão, nas paredes e até mesmo no teto. Algumas armas automáticas jazem espalhadas, assim como milhares de cápsulas sem projéteis. Os corpos vestem uniformes idênticos ao do homem congelado. No fundo do aposento existe uma rampa que leva a uma possível garagem. Um corpo sem cabeça jaz próximo à porta. Sua cabeça se encontra na parte mais baixa da rampa. As lâmpadas piscam ocasionalmente e o cheiro é insuportável, dando ao local uma aparência ainda mais assustadora.

— “Deus nunca esteve aqui” – murmura um dos soldados no rádio – Eu prefiro não imaginar como essa cena se formou! – a voz de Tom se faz reconhecível.
— John, você que entende russo, o que está escrito naquele painel com os números? – pergunta Carl.
— Eu não sou o único que entende. Angie também sabe. O painel diz algo como “Bem vindo à estação de pesquisa 421A-X. Estamos há “um” dia sem acidentes. Nosso recorde sem acidentes é de “setecentos e quarenta e sete” dias. De 9 de Abril de 2006 a 26 de Abril de 2008”. É isso que está escrito – conclui Matches – Me parece que o tal acidente teve efeitos colaterais atrasa… – um rugido vindo das profundezas da base interrompe o falatório de John, assim como se torna audível o som de passos que se aproximam velozmente.
— Se coloquem em posição! – Carl grita nos comunicadores – Preparem-se para agir! Formem uma linha!
Subitamente os passos param e uma sombra quadrúpede surge próxima ao fim da rampa, projetada por alguma das centenas de lâmpadas abaixo. Os homens mira, nervosos, prontos para puxar o gatilho. O ser emite um grunhido e sua sombra se afasta, desaparecendo.
— Equipe Delta, avançar. Ômega, cubra a retaguarda avançando lentamente – Carl ordena após alguns segundos de silêncio total – Pete, você e eu vamos na frente. John vem um pouco atrás. Vamos.

As duas equipes se deslocam em passos curtos. Pete mira uma poça de líquido amarelo, onde estava a sombra.

Delta termina de descer a rampa, chegando a uma imensa garagem subterrânea, quase totalmente vazia. Havia alguns jipes, tratores e um grande caminhão de carga, adaptado para o gelo. Todas as paredes são de concreto liso, não havendo quaisquer janelas. As lâmpadas são amarelas, banhando o cenário com um tom mais vivo, porém excessivo. No chão há diversas marcas de pneus dos mais variados tamanhos. Mais alto-falantes estão espalhados a intervalos regulares. Para os de visão mais acurada, é possível notar algumas bombas de combustível ao longe, à direita. Altas pilastras demarcadas com listras amarelas e pretas fazem a sustentação desse monumento à engenharia. Toda a tubulação passa rente ao teto, exposta. Há outra rampa, paralela à primeira, que leva mais para baixo e uma porta com uma placa indicando ser uma escada.

— Capitão, eu não estou me sentindo muito bem… – a voz de Peter sai num sussurro e ele desaba no chão.
— Acho que agora temos mais uma missão. Ômega, vocês têm como objetivo primário localizar o gerador. Delta, nós vamos levar o Cabo Peter até a estação médica para então nos reencontrarmos com Ômega – Carl fala olhando para Tom e Matches – Nada de falhas.

Quatro “câmbio” são ouvidos em confirmação.

— Creio que ainda estamos nos andares mais superiores. Temos que localizar um mapa ou um elevador o mais rápido possível. Para tal, acho que devemos pegar a escada.
— Comandante – Matches interrompe Carl – eu estou bem certo de ter visto um terminal de computador na pequena sala pela qual chegamos.
— Certo. Ômega, fiquem aqui em guarda, eu o acompanharei, John.

Os dois homens sobem a rampa novamente, chegando ao local da carnificina. O cientista de fato vira uma tela afixada à parede, formando um ângulo de quarenta e cinco graus. Ele se aproxima. Não há imagem. Com um leve toque em sua tela aquele terminal é ativado e John tem algumas opções para sua navegação. “Setores”, ele seleciona com um simples movimento. Uma enorme lista de botões aparece, mostrando todos os setores da base. Ele clica em “Pesquisa”, digitando “Estação Médica” com rapidez no teclado virtual. A planta baixa do andar 3F aparece, com uma grande área demarcada sob o símbolo de uma cruz vermelha. Ele volta para “Pesquisa”, desta vez buscando por “Projetos”. A mensagem “Você não tem privilégios para acessar essa informação neste terminal” pisca na tela escura, retornando ao menu principal.

Com um pouco mais de tempo ele localiza os laboratórios de biotecnologia, que estão próximos ao elevador no andar 14E. John descobre também que cada andar é imenso, sendo dividido em seis zonas, representadas pela letra após o número.

— Capitão, a estação médica está no segundo andar, contado de cima para baixo. Não consegui localizar onde eles realizam pesquisas importantes, mas há laboratórios no décimo quarto andar. Acho que isso já é suficiente para começarmos.
— Ok. Vamos falar isso a Tom e partir para nosso objetivo.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 09

As equipes se separam. Delta vai pela escada. Carl já estava ficando acostumado a todo aquele peso sobre seu ombro. Ele ia à frente, carregando Peter e John cobria sua retaguarda. Há uma indicação em vermelho na parede. “1A”. Eles descem até 2A e saem das escadas, deparando-se com um grande quadro com setas.

— É por aqui – John fala guiando seu superior – Acho que teremos que andar bastante até chegarmos lá…

Após vinte minutos caminhando dentro do mesmo andar eles chegam à seção F, constituída em sua maioria pela “Estação Médica”. No caminho passam por corredores compridos e mais quadros com indicações. O ambiente agora tem um aspecto frio, com paredes forradas por placas metálicas, lâmpadas bem espaçadas, salas com vidros grossos e trancas digitais, chegando até mesmo a recordar John da OPAB. Passam também pelos elevadores correspondentes às seções A, C, E e F. A porta da enfermaria não pedia senha e abriu-se quando eles se aproximaram. Carl deita Peter sobre uma mesa de metal frio e procura por medicamentos, logo ficando impaciente pois as bulas estão todas escritas em russo. John vai lendo as funções de cada caixa e agulha, passando para o major aquelas que ele diz serem de alguma utilidade e jogando o resto numa pia.

Após um acúmulo de caixas e injeções ao seu lado, Carl se lança numa empreitada médica para salvar o pé de seu soldado enquanto John fica por ali, escorado numa bancada e observando os detalhes do cenário.

Existem quatro outros leitos metálicos na sala retangular. Há alguns armários afixados ao longo das paredes, cujo conteúdo varia desde remédios a instrumentos de cirurgia, passando por luvas e material para curativos. O chão é liso e possui dois ralos para facilitar lavagens particularmente saguinolentas. Várias bancadas com pias e tubos de ensaio estão ali a ocupar espaço, assim como tanques de oxigênio e suportes para soro, que estão jogados desordenadamente num dos cantos.

Um sinal no rádio chama a atenção de Matches.

REGISTRO 03, CAPÍTULO 10

Enquanto delta ruma pelas escadarias para chegar à enfermaria, Ômega toma a direção da rampa para o andar inferior. Desde que entraram na base ainda não baixaram suas armas e assim prosseguem, por toda a extensão da garagem. Ao passarem por um jipe, Angie sugere:

— Pessoal, a gente tem mesmo que ir a pé?

Instantes depois eles já se movem a toda velocidade, pelos inúmeros andares da garagem, dentro do jipe militar russo. Ao fim de muitas rampas, garagens e descidas eles chegam a um elevador. 6F é seu andar e sua seção.

— Ótimo! Daqui praticamente temos só descida. Pouca caminhada – fala Tom nos comunicadores, pressionando o botão para chamar o elevador, que começa a se mover ruidosamente, vindo das profundezas daquela caverna artificial gelada.

Continua…

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