Day-to-Day

[CINE] Pedro e a Cigana.

August 17, 2010

Se sua atenção não for capturada pela primeiríssima tomada de Pedro e a Cigana – dirigido pelo Ricardo (fotógrafo do Raposa e Arco Íris) e pela Ana Paula (assistente de direção do Prazer Extremo) -, creio que você é uma pessoa normal demais para acompanhar esse blog. Vou tentar narrar o acontecimento da cena, para você poder ter uma idéia básica da série de eventos.

A primeira imagem é de uma grávida (interpretada por Dilson, com barba), usando um vestido longo, barriga falsa, peruca loira, salto alto, com um cigarro numa mão e um copo de bebida na outra. Ele(a) se apóia na geladeira, com olhar distante. Ah, aparece também uma manequim seminua, enrolada em lâmpadas de natal. Depois, a câmera vai andando para frente e para a direita, passa pela Mari (a mesma do Arco Íris, só que aqui interpretando o papel de Lia), que veste um terninho cinza e uma boina, fumando, apoiada num balcão e conversando comigo, o Sr. Disfarce, que usava um sobretudo marrom, um chapéu de plumas e aquele conjunto óculos-nariz-bigode.

No balcão, vemos muitos copos de bebidas coloridas e garrafas vazias de cerveja. A câmera continua, passa por um grupinho de três pessoas, a Mari Brecht, fantasiada de Pedrita (com osso na cabeça e tudo), a Mari Chiaverini, de Chapeleiro Maluco, e o Fábio (diretor do Prazer Extremo), que usava uma gravata brilhante e segurava um copo de bebida azul.

Em seguida, passava por Fernanda e Camila, a primeira usando um kimono rosa e a segunda vestida de princesinha, com coroa e tudo, depois, chegava ao sofá onde tínhamos um russo muito bêbado, quase catatônico ao lado de uma garota usando uma máscara de brilhantes e se agarrando intensamente com o Freakzoid. Ao lado dos dois, o Paulinho, com um vestido de lantejoulas prateadas e uma jaqueta de couro com a marca Jose Cuervo, completando a fantasia com uma máscara de vaca. Quando a câmera passa por ele, ele abana a cabeça em desaprovação ao casal que se agarra.

A câmera começa a se afastar, passa por duas garotas (Julia, do AV2009 e Marília), uma de coelhinha e a outra que veste uma saia dourada, comentando “Nossa, comi muita pipoca! Pega uma cerveja pra mim?”. A coelhinha atravessa o quadro, e finalmente vemos Pedro, vestido de Wally, refletindo em meio a tudo aquilo. Mari (a atriz) sai do balcão e o aborda, meio bêbada. Entra em cena Luís (André, um dos fotógrafos do Raposa), vestido de Fidel Castro/Chê Guevara, e abraça o amigo. Depois, Luís e Lia começam a flertar e Pedro sai de cena. ESSA é a primeira seqüência, sem cortes, de Pedro e a Cigana.


André/Luís

Acho que a seqüência acima é a maior que eu já escrevi na vida. A coisa toda ficou bem confusa para a câmera, não é? Agora pensem no som. A gente tinha que ir falando, com fade in e fade out, conforme a câmera passava, e o Renato (microfonista) ia passando com o boom em cima de cada grupinho. Eu era o ‘disparador’ das falas, até nas coberturas de som (gravações de som ambiente, pra criar preenchimentos no resultado final), pois precisávamos do burburinho da festa. Depois que o boom passava, a gente tinha que continuar a interagir, conversar e dançar, mas ABSOLUTAMENTE SEM FAZER SONS. De quantas festas a fantasia, mudas e sem som você já participou? Pois é. E essa cena começou na Sexta à noite, terminando no Sábado de manhã. O que isso significa? Que muitos figurantes mudaram de ator. Teve muita gente de Sexta que não tava no Sábado, e vice versa, mas os personagens continuavam, e as fantasias. Um “viva!” às fantasias.


Mari, Ricardo Henrique (que faz o papel de Pedro) e Ju (que faz a Cigana), juntamente com André, são os atores principais da trama, Pedro está perto de viajar para Paris, após se formar, Luís é seu colega de apartamento, revolucionário e militante, sempre tentando convencer o amigo a se envolver nos movimentos estudantis, Lia é uma espécie de pivô, amiga antiga de Pedro e Luís, e a Cigana é o elemento mágico, aparecendo quando menos se espera, atraindo o rapaz, e quase fadando sua viagem ao fracasso.



A casa do Pedro

Os outros cines que me perdoem, mas a Direção de Arte do Pedro e a Cigana foi PRIMOROSA. As pessoas realmente se sentiam em casa dentro desse cenário, tudo era muito real, e a paleta de cores era totalmente de acordo, criando o contraste adequado com os personagens e tons usados no figurino. Sério, a dupla chefe de Arte (Anna Júlia e Helena) mandou muito bem, junto com os assistentes (Renato, Elton e Piera, do AV2009, Mari Brecht. Piera, por sinal, quebrou a tradição dos continuístas do AVX, assumindo o posto nesse filme), e ambientaram o melhor cenário. As fotos acima comprovam. E tinha a casa ANTES da festa, DURANTE a festa e DEPOIS da festa, não necessariamente nessa ordem, então as coisas ficavam mais limpas ou menos limpas de acordo com a necessidade. Fantástico e trabalhoso.

Esse fundo falso me convence fácil!

O set foi bem tenso, correndo o tempo todo contra o relógio, sempre com a perspectiva de atrasar e perder planos fundamentais à história. Tirando isso, tinha a equipe com que mais me identifiquei, juntando vários dos elementos mais divertidos que conheci pelos corredores e pelos outros cines, criando uma sensação legal de “estar em casa” por lá. Por conta de toda essa correria, os diretores e fotógrafos (Murilo e Anna Júllia Santos) mudaram coisinhas na decupagem, diminuindo o número de planos de algumas cenas (como a da festa, ou a da manifestação, que explico logo mais) e, no fim das contas, as filmagens acabaram com um dia inteiro de antecedência.

A cena/seqüência da manifestação foi uma das coisas mais divertidas que já participei. Dá até empolgação pra pensar de verdade em filmes de guerra. Tínhamos ainda mais figurantes que na festa, cartazes e faixas, muito vento, frio, um carro, duas câmeras e duas lentes claras (50mm f/1.4 e 100mm f/2.8). Todo mundo meio vestido de revoltado, a vaca segurando um coquetel molotov, Pedro, correndo contra a corrente, em direção à Cigana, e um policial violento (interpretado por Vítor Coroa, do AV2009, que fez nosso Capitão Nascimento no Bixos de Elite) que interrompe a corrida do rapaz até a moça.

Fizemos muita fumaça em frente à Antiga Reitoria (morrendo de medo de sermos incomodados pela Guarda Universitária) com folhas secas, álcool e isqueiros. Mas muita fumaça MESMO. Saiu todo mundo meio defumado, depois de correr de um lado pro outro, criando efeitos muito legais e, fazendo Ricardo (diretor) entender que megafones são úteis em sets, ocasionalmente. Que tipo de pessoa seria eu, se não tivesse me metido no meio disso também, pra ficar correndo no frio e na fumaça? Diversão garantida, num dos momentos mais tensos do dia, porque ninguém sabia muito bem como essa parte ia se desdobrar. Sucesso, eu acho. Dá pra montar coisas bem interessantes com o material captado.

Não tiramos foto de equipe, mas tivemos fogueira depois do set! Afinal, já tínhamos feito fogo mais cedo, por que não fazer mais? Com o frio que estava na USP nesse Sábado, foi mais que merecido, depois de tanto correr de um lado pro outro, no vento e na fumaça. Deu pra relaxar, conversar e dar muita risada nesse tempinho. Peguei uma carona com Ricardo até o metrô e depois cheguei em casa, cantando pela rua cheia de gente. Ah, o pós-set…

Nota do Autor: A segunda, terceira, quarta, quinta, décima segunda e décima terceira fotos desse post foram tiradas por Léo Rudá. As outras são minhas mesmo.

  • fatimastarosa August 17, 2010 at 6:39 am

    Esse post tem clima de festa!
    Amei o Pedro vestido de Wally. Fiz uma viagem na metáfora de ‘onde está Wally?’, personagem/camuflagem que se perde em cenários sempre cheios de elementos e que pede olhos atentos para encontrá-lo.
    Sua alegria é visível nas linhas e entrelinhas. Fiquei contente, aqui, também.

    beijo!

  • Ricardo M. August 17, 2010 at 11:54 am

    As fotos da nossa festa ficaram ótimas!

    [link de vírus]

  • Murilo Alvesso August 17, 2010 at 3:12 pm

    já risquei a vaca de molotov da minha lista de realizações para o futuro.

  • Tito Ferradans August 17, 2010 at 5:14 pm

    HAHAHAHAHA! Bem clássico, Ricardo! E sim, esse foi o set mais animado até agora. :D

  • Anna Azambuja August 18, 2010 at 9:47 am

    Olhando essas fotos eu me esqueço das dores e do cansaço e cicatrizes todas. Fica só um quentinho gostoso.

  • Mari C. August 31, 2010 at 12:08 am

    Haha, eu estava de Chapeleiro Maluco, mas tudo bem. E esse é o primeiro plano mais legal. x] E tava pensando agora, a gente muito devia ter feito uma foto com a galera toda na festa (inclusive os não-fantasiados) e com o Pedro no meio, pra podermos procurar o Wally.

  • Tito Ferradans August 31, 2010 at 5:41 am

    Ihhh, deviamos ter feito a foto mesmo! Ia ficar muito bom! hahahahahaha! Vou corrigir sua fantasia agora. Era muita coisa pra lembrar, obrigado pela correção! Hahahaha!

  • Ferradans. · [CINE] Zero. September 1, 2010 at 12:20 pm

    […] (Som), Felipe ou Lucas (Foto) e Victor ou André (Direção). O André, por sinal, atuou no Pedro e a Cigana e fez Fotografia no Raposa. Tá, não abria todos os planos, mas a maioria deles. Mudava-se a […]

  • Ferradans. · [CINE] A Vingativa Dra. Vanessa. September 8, 2010 at 12:38 pm

    […] Vingativa Dra. Vanessa rodou no estúdio B, com a mesma “estrutura” de paredes que Pedro e a Cigana, mas com uma pegada totalmente retrô, com Direção de Arte da Anna Júllia Santos. O roteiro, da […]

  • Ferradans. · [EQS] Pedro Morreu. July 12, 2013 at 11:32 pm

    […] pelas bandas desse blog como Mari Rattes, que, com a gente, no ano passado fez o Arco Íris, Pedro e a Cigana e o Final […]